Rejeitado pela família e salvo da violência, para praticar a misericórdia

Caros Diocesanos! A família é escola de Misericórdia. A paz, o progresso e o bem-estar do mundo dependem das famílias. Investir na sua educação, formação e felicidade é promover a paz e harmonia do género humano. Famílias desfeitas, sem amor, famílias na miséria material e moral e o ódio, a violência e a vingança, levam à criminalidade e ao desespero e oferecem os filhos ao terror e ao fundamentalismo ditatorial. Se é mau semear, nas crianças, o ódio e malquerenças dos pais, que dizer das famílias desfeitas, que contagiam, dando aos filhos o inferno dos cônjuges? A recensão italiana dum livro francês o confirma e não resisto a falar dela.

1.- Impressionou-me a recensão italiana da ZENIT. org de Federico Cenci, sobre o livro de Karim Mokhtari “Rédemption-Itineraire d’un enfant cassé” ( Redenção – Itinerário de criança ferida), onde o autor conta a sua experiência atribulada de abandonado a crescer, na rua, no ódio, na violência, no roubo e delinquência. Assassinou. Foi preso e  aliciado, pela cegueira fundamentalista, de que se libertou, graças ao Capelão católico, a visitadores e à jovem, com quem veio a casar e da qual tem dois filhos. Hoje, Karin, regenerado, visita as prisões, para salvar os jovens feridos e desesperados, para salvar os que a família e a sociedade desprezou e seduzidos pelo totalitarismo djihadista.

Karin nasceu, em 1978, filho de mãe francesa e pai argelino. Após o nascimento, o pai abandonou o filho e a mulher e esta juntou-se a um bêbado, racista e violento. Na rua, no ódio e na miséria, Karin aos 12 anos é preso e até aos 17 anos conhece três casas de correcção, onde, revoltado, alimenta ódio e desejo de vingança. Aos 18 anos, de novo, na rua, com 2 amigos, mata um traficante de droga e é condenado a 10 anos de prisão. Tenta suicidar-se. Um dia, vê presos, que se dobravam e rezavam, dirigidos por um que se dizia imam. Juntou-se a eles, para conseguir perdoar à família e à sociedade, mas logo notou que era manipulado, por alguém, com carisma, mas pouco conhecimento de religião e isso tornou-se claro, quando transferido de prisão o falso imam lhe disse: “és muçulmano, tens de defender o Islão, matando os infiéis”.

Um Padre Católico aborda-o. O preso abre-se: “cometi o irreparável e os homens não me perdoaram e não sei se Deus o fará”. O Padre diz: ”Deus coloca à prova aqueles que ama”. Karin reflecte, dialoga, com visitadores e a jovem, com quem virá a casar. Hoje é visitador de presos e diz: “ consegui reparar o dano que fiz à sociedade”. Critica o sistema prisional francês, que trata mal os jovens, os abandona e leva ao desespero. Tratados, sem dignidade e feridos, caem no totalitarismo, na violência e na vingança, sendo fáceis presas do desespero e da falsa formação totalitária e fundamentalista.  

2. – A religião, como diz o vocábulo, liga, une, mas, sem violentar, quando é iluminada, pela fé sobrenatural, em Deus, que é Amor, Omnipotente e Juiz e quer o bem das Suas criaturas. Ajuda a partilhar amor, a amar a verdade, a praticar a justiça, a misericórdia e o perdão. Estes comportamentos dão às crianças e aos adolescentes a felicidade e a esperança. Para evitar o fanatismo, a superstição e a fé irrazoável de carvoeiro há que utilizar a razão, de modo que fé e razão se ajudem mutuamente. A razão sem fé leva ao cientismo e endeusamento do visível e palpável, da experiência e do operar e a fé, sem a luz da razão, leva ao fanatismo, à ditadura totalitarista e à superstição. Uma e outra, isoladas, podem levar ao totalitarismo e ao desprezo da dignidade humana. Deus nos livre dos fanáticos, sem a mínima dose de razão esclarecida e de positivistas que não vêem nada para lá do que enxergam. O amor a Deus não prescinde do amor ao homem, antes, Deus quer ser amado, na pessoa humana e “ninguém pode dizer que ama a Deus a quem não vê, se não ama o irmão que vê” e vive ao seu lado.  

3. O amor e a misericórdia promovem a solidariedade, o diálogo e o enriquecimento mútuo. É preciso apostar na clemência e reconciliação e na convivência pacífica. Karin Mokhtari diz que há muitos jovens recrutados na rua e na criminalidade dos arredores de Paris, que são apanhados e utilizados, como carne para canhão, por abutres, com promessas e miragens totalitárias de martírio, fazendo deles terroristas suicidas, para fazer mal, semear o terrorismo e destabilizar a paz mundial. 

No Natal, em que celebramos o Nascimento do Filho de Deus, conhecendo a gesta da Sua descida e entrega, por amor aos homens, contribuamos, para o triunfo do bem, do amor, da paz e do diálogo entre todos. “No diálogo não há vencedores nem vencidos, mas só enriquecidos”. Todos lucramos, com o triunfo do bem, da solidariedade e da misericórdia. Apostemos, por isso, na regeneração das famílias e na sua evangelização, para, como adultos e alicerçados em Cristo, contribuirmos, para o triunfo do bem, no mundo melhor, dando às crianças e adolescentes as boas razões de viver, a esperança e o ambiente, onde possam crescer, no amor e na liberdade, como peixes, na água.

“Que o Deus da paz esteja com todos Vós! Ámen” ( Rm. 15, 33 ).

+ Amândio José Tomás, bispo de Vila Real.

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