Jubileu, Família, Direitos Humanos, Perdão e Indulgência

Caros Diocesanos! Abrimos a Porta Jubilar, em Vila Real. Na Festa da Sagrada Família. abriremos outra, em Chaves, apostando, na meta e método da Nova Evangelização, a fazer, nas Famílias e com as Famílias, e na família alargada, que é a Igreja.

1.- O Evangelho é comunicado ao mundo, pelos crentes em Jesus e, mediante famílias, decisivas, para a evangelização. A cidade termal e romana de Chaves foi sede episcopal de Idácio Límico, bispo de Aquae Flaviae, o apóstolo e cronista do Reino dos Suevos e o cabouqueiro da sua evangelização, o qual, com S. Martinho de Dume, S. Rosendo e outros, deu aos povos deste noroeste peninsular, os rudimentos da fé e do catecismo. A abertura da Porta alerta, para a urgência da Nova Evangelização, para a importância da Família, berço, escola e púlpito da propagação da fé e do Evangelho. Em ordem ao anúncio a todos e sobretudo aos simples e incultos é necessário apostar na catequese dos rudes e ignorantes, particularmente das famílias, como fizeram aqueles santos, no seu tempo, privilegiando as Missões Populares, a catequese de famílias e Adultos, a Preparação dos Jovens para o Matrimónio e o Acompanhamento dos Casais. Nada de válido se pode alcançar, na sociedade, sem o aval e ajuda das Família e sem os valores humanos e cristãos, que ela deve veicular. A Família foi determinante na educação e boa conduta dos filhos e na melhoria da sociedade, ao longo dos tempos.

2.- A Porta é metáfora e sinal de Cristo, Caminho e Rosto de Deus, feito homem, que tem coração humano, nos leva ao Pai e nos dá o Espírito. A atitude fundamental de Deus, na relação com os seres humanos, é a misericórdia, arquitrave da vida da Igreja, objectivo, preceito e atitude dos indivíduos. A misericórdia, relacionamento, grandeza e limites da pessoa humana descobrem-se e potenciam-se, na família, no intercâmbio amoroso de pais e filhos. Mas, pouco serve abrir as portas e multiplicar os ritos dessa abertura, sem a mudança de vida e do pensar e agir das pessoas. Não há salvação humana, nem mudança social, sem o empenho e a conversão da mente e do agir. Chamados a ser felizes, solidários e unidos, é, na relação com os outros, e nas relações familiares, que tomamos consciência de ser pessoas, com auto-consciência, liberdade e futuro. A consciência pessoal obtém-se, com outros. A felicidade vem do êxtase, da saída e da oferta. Não há alegria, sem dom, empenho, partilha, misericórdia e perdão, sendo estéril o culto, sem conversão e adoração, em espírito e verdade. Deus criou tudo, para todos, e quer ser amado, nos necessitados. É na vida familiar, que se vive,  descobre e exprime o amor e a solidariedade.

Há que conhecer e praticar a Doutrina Social da Igreja e apostar, na realização do bem comum, no reconhecimento do destino universal dos bens, na dignidade humana, na verdade, na liberdade, na justiça social, na solidariedade, na subsidiariedade e direito de propriedade dos indivíduos. O Ano da Misericórdia permanecerá estéril, não terá impacto nos indivíduos e na sociedade, se faltarem as obras e frutos da mudança e da conversão e faltar a prática da justiça social, da caridade e das Obras de Misericórdia.

3.- Se o Jubileu é festa religiosa, ele tem sobretudo um intuito social. A abertura da porta iniciou o Jubileu da Misericórdia, a Festa do Grande Perdão e do Repouso, que os Hebreus celebravam de 50 em 50 anos (Lev.25,8). A palavra Jubileu vem do hebraico yobel, chifre de carneiro ou trombeta que anunciava a festa, ligada a valores sociais e religiosos, que, hoje, diríamos são do âmbito da Doutrina Social da Igreja. Deus é o Senhor e garante dos direitos humanos, do destino universal dos bens, da dignidade, da fraternidade e da propriedade inalienável e básica da liberdade individual. “A terra pertence-me e vós sois apenas estrangeiros”(Lev. 25,23-24).  As festas celebram-se, com os outros, e não sem eles ou contra eles. A alegria vem do êxtase, da saída de nós mesmos, para ajudar e pensar nos outros, tornando-os felizes, sendo misericordiosos, perdoando, dando, acolhendo e partilhando. Não somos felizes, sem os outros, sem a festa da família humana. Não é feliz quem esbanja e é indiferente ao pobre e a quem passa fome e vive oprimido e explorado.

O Ano Jubilar hebraico integra a “Lei da Santidade”, no ritmo semanal de sete anos (o ano sabático) e de cinquenta (ano jubilar, após sete semanas de anos), em que há a devolução das terras, o perdão das dívidas e a libertação dos escravos. O fundamento religioso das leis sociais assenta, no facto de Deus ter criado tudo para todos.

4.- Não se compreende um Ano Jubilar da Misericórdia, sem a prática da justiça, sem a solidariedade e subsidiariedade, sem amor aos pobres e deserdados. O Papa abrindo a Porta, na Casa da Caritas de Roma, para os sem abrigo, chama a atenção, para o justo sentido do Jubileu, aberto ao perdão, dando a cada um o que lhe pertence, atentos ao bem comum e ao destino universal dos bens da terra. Vivemos, num mundo desigual, onde a indiferença, os desequilíbrios e o fosso, entre ricos e pobres, cresce, cada vez mais. Não se pode celebrar a alegria do Jubileu, sem os pobres e os deserdados, sem perdoar a dívida pública e individual. Não se pode celebrar, sem justiça social, sem o perdão mútuo, sem solidariedade e misericórdia. Não se trata dum bodo aos pobres, mas de lhes dar e restituir a dignidade a que os pobres e os deserdados têm direito. É, nos necessitados, que Deus quer ser reconhecido, servido e amado.   

5.- No Ano da Misericórdia apostemos nos Sacramentos da Cura, na Reconciliação e na Unção dos Doentes. Abeiremo-nos do sacramento da alegria, com uma boa Confissão, sem esquecer o que pressupõe: o exame de consciência, a confissão de boca, a dor de coração, o propósito firme de emenda e a penitência, também dita, satisfação de obra ou reparação do dano. A indulgência, que se pode obter, não é comércio, leviandade, ritualismo e falta de compromisso cristão. Não se obtém, sem a boa e recta intenção, a contrição dos pecados e o empenho humano e cristão. A Indulgência percebe-se, à luz do mistério pascal de Cristo e da Comunhão dos Santos, vendo-a à luz do mistério da solidariedade humana e cristã. A Indulgência é dada em atenção aos méritos de Cristo, morto e ressuscitado, que nos convida a contemplá-lo, na cruz, no dom de si e a beber da fonte inexaurível do Seu coração. A Igreja dá do tesouro dos méritos de Cristo e dos Santos e a Indulgência brota do manancial do mistério pascal de Cristo e da Comunhão dos Santos. “As indulgências são a remissão diante de Deus da pena temporal devida aos pecados, já perdoados quanto à culpa, que, em certas condições, o fiel adquire para si ou para os defuntos, mediante o ministério da Igreja, a qual, como distribuidora da redenção, distribui o tesouro dos méritos de Cristo e dos Santos” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 312). A indulgência não se obtém sem empenho, esforço e o arrependimento e desapego do pecado. Não basta rezar pelo Papa e cumprir o rito da peregrinação e de passar a porta santa. É necessário ir mais além e passar do rito e do símbolo à realidade que eles têm em mente dar e significar às pessoas.

6. Pede-se aos Arciprestes e aos Párocos, para que nos Concelhos e nos Arciprestados, nas Igrejas Jubilares, escolhidas, durante a Quaresma e no Ano Jubilar, se estabeleçam os dias da peregrinação, das confissões e do rito de atravessar a Porta, de forma que os Fiéis se possam organizar e possam aproveitar para confessar os pecados e serem absolvidos, cientes de que não há perdão sem arrependimento e desejo de conversão, sem desapego do pecado e sem a confissão, bem-feita, com pleno arrependimento dos pecados e a oração pelas intenções do Papa.

Entre os sinais da misericórdia, que os Sacerdotes podem e devem manifestar aos Fiéis contam-se o acolher bem as pessoas, dispor-se a ouvi-las em confissão, atendê-las, na direcção espiritual, dando-lhes o acolhimento que precisam e a que elas têm direito.  

Com votos de Feliz Natal, na Novena que antecede a Festa do Nascimento do Menino Jesus Vos saúda e exorta a aderir de alma e coração ao Seu Evangelho, o Vosso bispo.

+ Amândio José Tomás, bispo de Vila Real 

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