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Farisaísmo, Terrorismo, Coerência Cristã e Diálogo Ecuménico

“ A graça de Deus se manifestou (…) e ensina a abandonar a impiedade e os desejos maus e a viver, na temperança, justiça e piedade, esperando a glória do grande Deus e Salvador Jesus Cristo, que se deu por nós, livrando-nos do mal e fazendo de nós o povo purificado e zeloso de boas obras” (Tit. 2,11-14). O Natal dá-nos a conhecer Deus e o Seu plano salvífico, faz de nós um povo, ensina a evitar o mal e a viver, na sobriedade, na justiça e na piedade. A fé é um sim a Deus, que se revela e supõe a obediência, a rectidão e o empenho, sem ceder ao relativismo e à indiferença, mas conjugando a verdade e o amor. O farisaísmo nega a verdade, gera violência, amordaça a consciência e a liberdade humana e proíbe a auto-manifestação da fé e as convicções de cada um.

1.- Somos enganados, sem dar conta. Engolimos o que nos impingem. Obedecemos ao politicamente correcto e pré-fabricado, que envenena. O materialismo, o egoísmo e o consumismo seduzem, com a eficácia e erotismo. Somos escravos de falsos alarmes e da apologética de deixar cair os braços, de engolir tudo, sem estrebuchar, em nome da tolerância, que leva à descrença, à venda da alma e da consciência, em troca do bíblico prato de lentilhas e da falsa construção da paz, sem amor e sem verdade.

A sociedade perdeu o norte e as raízes cristãs, é comandada, por fazedores de opinião, e escrava da ditadura da moda, do que convém e do preconceito, que não une, nem dá esperança, mas ofusca, desespera e divide. Os adultos são contaminados e, facilmente, encontram obstáculos, razões de guerra e preconceitos, que alimentam o ódio, sendo escravos do terrorismo ideológico e do farisaísmo ético. Ao contrário, as crianças de tantas raças, culturas e religiões brincam, convivem, sonham juntas, sem preconceitos! O homem moderno, egoísta e consumista, cheio de preconceitos, confunde o Reino de Deus, com o bem-estar e o volume do ventre, e vê no emigrante e estrangeiro, doutra cultura e fé, um potencial inimigo e uma bomba relógio, prestes a deflagrar. Há que promover a paz e o diálogo e rejeitar a indiferença, as ideias feitas e os preconceitos e cultivar sentimentos de misericórdia, perdão e piedade, sabendo bem que, como dizia Einstein, é mais fácil desintegrar um átomo, que arrancar um preconceito! É urgente cultivar o bem e a verdade e potenciar a solidariedade e respeito de diversas tradições, culturas e visões do mundo, para receber, com dignidade, seres humanos, em grande parte muçulmanos, na Europa decrépita, sem alma e valores de referência. E temos de aprender a ter coração e piedade, acolhendo, como pudermos, quem nos bate à porta.

2. – O ser humano tem o direito de procurar, amar e afirmar a verdade e a sua crença, como a vê e a sente, desde que não ponha em perigo a salvaguarda da vida dos outros. Ninguém deve impedir ninguém de manifestar a fé e a liberdade de consciência. Ora, está a aparecer a sub-reptícia e camuflada ditadura do laicismo e do governo mundial, que quer impor aos pobres e aos simples a renúncia à fé e ao testemunho público. Não é hipocrisia e farisaísmo ético impor, em nome da ditadura do laicismo, a negação de valores, tradições, cultura e a liberdade de afirmar a fé e as convicções? Não produz tal atitude o terrorismo político, fruto do farisaísmo ético? Em França, a associação de municípios, não em nome da correcta laicidade, mas do laicismo, impôs aos autarcas franceses, por decreto, que impedissem, no espaço público, a construção de presépios, manifestações de fé e celebrações natalícias, para não ferir os sentimentos dos irmãos muçulmanos! Até onde vai o farisaísmo ético, o relativismo moral e a falsa tolerância? Na Itália, sugeriram silenciar costumes, o Natal e os cânticos natalícios, vivendo, sem raízes cristãs, para os inquilinos muçulmanos viverem connosco, em paz! Mas, serão as celebrações, festas, cantos e costumes cristãos, na Europa, agnóstica, tão carenciada deles, que vão roubar a paz aos nossos queridos irmãos muçulmanos? Até onde pode chegar a cretina arrogância farisaica dos que, como no Evangelho, não entram nem deixam entrar, impondo cargos pesados, sem lhes tocar, com o dedo. Que mal fazem as celebrações, o Natal e o anúncio coerente da fé cristã aos irmãos muçulmanos? Eles não são vítimas da nossa fé, nem nós somos vítimas da fé deles. Os muçulmanos, como os cristãos, no Médio Oriente, são vítimas sim do desejo do poder, da glória de mandar e vã cobiça, de que fala Camões, da idolatria do dinheiro e do petróleo. Milhões de pobres são esquecidos, maltratados e explorados, pois, nada beneficiam do petróleo, apenas sofrem os danos colaterais da guerra de interesses e da indiferença global dos grandes detentores da alta finança.

Quem não sabe que os muçulmanos celebram o Natal, no Egipto e noutras partes? E não sofrem, com isso, mas sofrem e são vítimas e destruídos por bombas despejadas, indiscriminadamente, sobre as populações, sobre inocentes e culpados. Sofrem, com a política farisaica ocidental, que antepõe o dinheiro, o petróleo, a escravização humana, à dignidade da pessoa, seja ela cristã ou muçulmana. Não é a fé cristã ou muçulmana, que põe em perigo a paz, mas o ódio, a prepotência e o endeusamento das próprias paixões, interesses e caprichos, com que mascaramos e adulteramos a fé, atribuindo a Deus Misericordioso o que Ele não quer, nem deseja, nem manda fazer.  

Como é admirável, nobre e consolador saber do exemplo dos nossos queridos irmãos muçulmanos, que expõem a vida, para salvar os cristãos, no Quénia! No fundo, somos irmãos, com fé monoteísta comum e com património, em boa parte, comum, que nos une, devendo sublinhar mais o que une, do que aquilo que nos separa. Não sabemos que eles têm grande apreço por Jesus, o grande profeta e por Maria, da qual chegam a afirmar o nascimento virginal? Por isso, não é a prática cristã, nem a alegria celebrativa e o amor dos cristãos que ofendem os muçulmanos, como não é a oração assídua, o jejum e a esmola dos fiéis muçulmanos, que ofendem os cristãos. Cristãos convictos e muçulmanos piedosos são vítimas do terrorismo ideológico. É desumano, anti-religioso e ofende a Deus misericordioso, sendo contra a dignidade humana de quem quer que seja, o fundamentalismo, a violência, em nome de Deus, porque a violência não é nem pode ser nunca cristã ou muçulmana. É simplesmente abjecta e indigna.

3. – O farisaísmo ético domina o palco do mundo e o palco nacional, como já se viu, na pressa, em aprovar leis, que de humanas e justas só têm a aparência. Em nome do dito progresso civilizacional, brinca-se com as crianças. Os filhos, pobres, e desprotegidos, são cobaias, bonecos, instrumentos, sucedâneos de carências afectivas. Brinca-se com tudo e com todos. Os velhos e as crianças são os grandes rejeitados da sociedade farta e egoísta. Uma criança tem direito a um pai e a uma mãe de sexo diferente, têm a necessidade de carinho, ternura e acompanhamento. Os filhos não podem ser carne para canhão e objecto de extracção e venda de órgãos e nem objecto de negociação, como as vacas, na feira. Há que recordar o princípio de que “os fins nunca justificam os meios”. Ao vermos o panorama até parece que há um direito absoluto a ter filhos e, se não se podem ter, compram-se, com métodos ilícitos. Parece que os débeis não têm direitos e podem ser objecto de compra e venda e de todos os caprichos. As mulheres vendem-se, alugam-se, como incubadoras. Eles e elas arvoram-se, no direito, a terem crianças, a todo o custo. As vidas inocentes são bonecos, para satisfazer caprichos de adultos irresponsáveis. Não se pensa nos inocentes. Não foi só o Faraó e Herodes a truncar o crescimento do Povo Eleito e a querer eliminar o Messias e o fez aos filhos, esposas e adversários. Os meios ilícitos e desumanos são muitos, e a barbárie, sob a capa de progresso civilizacional e de liberdade, cresce a olhos vistos.

4.- A Jornada Mundial da Paz nos ajude a arrancar preconceitos, a promover o diálogo entre povos, culturas, raças e credos, para construirmos a casa comum da humanidade nova, dando preferência aos pobres e abandonados, neste Ano Jubilar da Misericórdia, para que não falte aos pobres o que sobra e é esbanjado, na mesa dos ricos, porque pobres e ricos são filhos do mesmo Pai, que manda o sol e a chuva, sobre uns e outros, sobre justos e injustos, tendo destinado os bens da terra para proveito de todos. Não há crescimento civilizacional, sem verdade, justiça, respeito do outro e misericórdia. É imprescindível apostar no bem comum, querer o bem de todos e não excluir ninguém, amando a verdade, a justiça, a liberdade e a solidariedade. Não ter medo de abrir o coração aos pobres, de praticar o bem e acolher os irmãos nossos, sejam quem forem, de todas as raças, cores e religiões. Assim, a Europa, por vias travessas, talvez lá chegue e consiga redescobrir a alma que perdeu e a fé cristã que abandonou. Fiéis a tudo isto, vivei em paz, na sobriedade, na justiça e na misericórdia. Que Deus Pai e o Seu Filho Vos abençoem e que a Virgem Mãe de Deus e Mãe nossa Vos proteja, sempre.

+ Amândio José Tomás, bispo de Vila Real.

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