Mensagem no início dos trabalhos do Conselho Presbiteral

          Saúdo com alegria e afeto a todos e cada um de vós, membro eleito ou designado para o novo Conselho presbiteral da diocese de Vila Real. Esta é a primeira sessão de um dos órgãos mais importantes da vida de uma diocese, o que é comprovado pela referência feita no Código de Direito Canónico (Can. 495 §1): «Em cada diocese constitua-se o conselho presbiteral, isto é, um grupo de sacerdotes que seja uma espécie de senado do Bispo e represente o presbitério, ao qual compete ajudar o bispo no governo da diocese nos termos do direito, para promover o mais possível o bem pastoral do Povo de Deus que lhe foi confiado». Neste sentido, conto com a contribuição de cada um para que este conselho realize plenamente a missão que lhe compete.

          Pela sua natureza, o CP é um órgão que exprime e exercita a comunhão e a corresponsabilidade entre o Bispo e o presbitério, que desta forma não se reduzem a conceitos piedosos ou meras abstrações, mas adquirem densidade e conteúdo práticos no concreto da vida pastoral. Os estatutos deste conselho aprofundam esta finalidade, dizendo no seu artigo 3º: «O Conselho Presbiteral (…) é expressão e instrumento da unidade, unicidade e fraternidade de todo o presbitério, do diálogo institucional e da corresponsabilidade pastoral».

          Tenho plena consciência da importância deste órgão para o bem do presbitério e de todo o Povo de Deus desta diocese. Tudo farei para valorizar todos os contributos que aqui receber em ordem ao governo da diocese. Peço a cada um que colabore de forma leal e empenhada nos trabalhos do conselho, não só contribuindo com as suas reflexões, mas procurando fazer a ponte com os presbíteros que representais, ora fazendo chegar ao conselho as suas reflexões, ora partilhando com eles as conclusões de cada sessão.

          Estas minhas convicções sobre o lugar e papel do Conselho não são de agora nem provêm apenas da letra da lei mas da experiência de muitos anos de vida sacerdotal em que fiz parte do Conselho na minha diocese de origem. Aí fui aprendendo que, apesar do estilo de cada bispo, a dinâmica do Conselho pode favorecer muito o espírito de um presbitério e até a renovação pastoral de uma diocese.

          Trago ainda na mente e no coração o belo e significativo momento da canonização de S. Bartolomeu dos Mártires que foi, ao tempo, bispo desta região e que servirá como fonte de inspiração e intercessão para o nosso trabalho pastoral deste ano (e não só!). A sua preocupação maior foi sempre o da renovação pastoral da igreja do seu tempo. Da mesma forma, o Papa Francisco tem apontado para uma renovação da Igreja de hoje, desejo bem expresso na sua primeira exortação apostólica, Evangelii Gaudium : «A reforma das estruturas que a conversão pastoral exige só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de saída» (EG, 27).

          Nesta diocese, todos, a começar pelo Bispo, estamos envolvidos nesta missão. Sendo fiéis a uma bela tradição de quase cem anos, e gratos por tantos que deram a sua vida ao serviço desta Igreja, compete-nos tudo fazer para que esta missão seja plenamente cumprida. Uma missão acerca da qual destaco dois aspetos:

1º As atitudes de fundo, inspiradas no evangelho, serão sempre as da proximidade e do acolhimento. Assim, tal como S. Bartolomeu percorreu longos e difíceis territórios para estar junto do clero e das comunidades, desejamos que as visitas pastorais, a começar em Janeiro no arciprestado do Centro I, sejam momentos de presença do Bispo junto das comunidades e oportunidades de encontro, de festa e revitalização das paróquias.

2º A missão requer hoje um estilo sinodal. Um estilo proposto a todos, clero e leigos, que se distingue pela capacidade de escutar e pela coragem de falar com verdade; um estilo que brota da consciência que ninguém trabalha sozinho ou por conta própria, antes se empenha em promover a comunhão, a partilha e a entreajuda.

Neste tempo de novos e grandes desafios à missão da Igreja, os órgãos de comunhão e corresponsabilidade adquirem uma maior relevância. O Conselho Presbiteral é o primeiro a retomar atividade, seguindo-se em breve, o Conselho Diocesano de Pastoral e o Colégio de Consultores (que, segundo o Direito, é escolhido pelo Bispo de entre os membros do Conselho Presbiteral), sem esquecer o Conselho Económico da diocese.

Nesta intervenção introdutória, gostaria ainda de referir os temas propostos na agenda desta sessão.

Quanto ao primeiro – reflexão e partilha sobre o futuro do edifício do seminário – julgo que é uma questão da maior importância para a diocese. Sou bispo da diocese apenas há quatro meses mas reconheço que é necessário enfrentar esta questão e tomar decisões. Desde logo porque há propostas que carecem de um resposta dentro de prazos razoáveis, mas julgo que mesmo que não existissem, a diocese precisaria de debater e resolver esta questão. Para isso é muito importante a opinião do clero, de cada um de vós e dos padres que representais, no sentido de ajudar o Bispo a tomar as melhores decisões. Como é óbvio, não tenho soluções mágicas nem pré-concebidas, mas estou aberto a todos os contributos construtivos. No passado foram dados alguns passos mas o essencial está por fazer.

Ao abordar tema tão delicado, gostaria de propor três palavras como pano de fundo para o debate: serenidade, comunhão e realismo.

Serenidade, porque esta questão é comum a grande parte das dioceses e congregações religiosas do país e não só (“o que fazer com grandes seminários, hoje praticamente sem alunos?”). Por outro lado, o facto de haver interesse no edifício e terreno é um sinal positivo acerca do seu valor para a cidade e para as pessoas. Porém uma serenidade que não se confunda com deixar correr, numa posição confortável de evitar decisões, porque essa é sempre a pior decisão.

Comunhão assente na consciência humilde de que a nossa opinião é sempre limitada e a escuta e partilha são sempre enriquecedoras porque nos abrem perspetivas novas; comunhão no aceitar de uma decisão que deve envolver e comprometer a todos. Não será de ninguém contra ninguém, sem vencedores ou vencidos, mas será a melhor decisão possível, tendo em vista apenas e só o bem presente e futuro da diocese.

Realismo, no sentido de que para uma reflexão útil e construtiva é indispensável a maior objetividade na análise da situação. Peço que nos fundamentemos no concreto da situação presente, na crueza dos números, e não iludamos com fantasias ou sentimentalismos.

Concluo, pedindo ainda a vossa participação no sentido de dar sugestões acerca de dois assuntos da maior importância: a celebração do centenário da diocese e perspetivas pastorais a propósito da canonização de São Bartolomeu dos Mártires.

Que o Espírito Santo nos ilumine e que Maria, Senhora da Conceição, nos ampare e proteja.

Vila Real, 19 de Novembro de 2019

+António Augusto de Oliveira Azevedo

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