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Homilia – Ordenações 2022

A Igreja de Vila Real vive hoje um dia de júbilo e de festa pela ordenação de três novos presbíteros. Cada ordenação, pelo seu significado e raridade é um momento especial na vida da diocese, para além de ser um dia único na vida do ordinando e da sua família, bem como da comunidade de origem e daquelas por onde foi passando.

Em pleno ano jubilar do centenário da nossa diocese, a ordenação de três novos sacerdotes é um grande dom de Deus, uma prenda especialmente valiosa. O Daniel, o João Paulo e o Miguel são três jovens que aqui nasceram e cresceram, foram formados no seminário e agora vão ser constituídos no ministério sagrado que fará deles pastores enviados a servir o povo de Deus.

Caros ordinandos, a cada um de vós quero manifestar a minha amizade, proximidade e reiterar total confiança. Esta igreja que vos acolheu e vos ajudou a crescer tem agora a legítima expectativa que sejais padres dignos e pastores dedicados. Sereis os novos membros de um presbitério que no último século constituiu um pilar fundamental da vida da diocese. Antes de vós, centenas de sacerdotes aqui receberam a unção sagrada e manifestaram a sua disponibilidade para servir esta igreja. Hoje, damos graças a Deus por vós, lembrando os que foram ordenados nesta catedral. Todos fazem parte deste presbitério que desejamos permaneça unido a Cristo e entre si, em verdadeira fraternidade.

A Palavra de Deus que escutámos, seja hoje e sempre para presbíteros, diáconos e todos os leigos, o farol dos nossos passos, a luz que ilumina os nossos caminhos. No trecho do Evangelho que relatava o envio dos setenta e dois discípulos, Jesus acentuava traços essenciais daquele que é chamado e enviado, um ensinamento que vale de sobremaneira para quem é investido no ministério ordenado.

Em primeiro lugar Jesus reconhecia que «a seara é grande e os trabalhadores são poucos». De facto desde o início os meios humanos sempre foram escassos face à dimensão do projeto de Deus. Foi assim e continuará a ser porque o desiderato da salvação de todos é algo que supera as meras capacidades humanas, é obra de Deus. Ele é o Senhor da messe e em todos nós deve suscitar uma profunda alegria o sermos chamados a colaborar nessa obra. Trabalhadores empenhados, colaboradores leais, discípulos apaixonados em cumprir uma missão sagrada, é isso que o Senhor da messe espera de cada um. Não tenhamos medo porque a seara é grande nem nos iludamos com a falsa de segurança de a  reduzir à nossa quinta pessoal com um grande muro em volta.

Jesus propunha depois um conselho, a modo de advertência, de grande utilidade para a vida sacerdotal, sobretudo na sua fase inicial: «Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos». Sábio conselho do Mestre que durante a sua vida experimentou e resistiu a todas as estratégias dos lobos que o quiseram desacreditar. Aos seus discípulos Ele ensinou a serem simples, prudentes e inteligentes. De uma simplicidade que não se confunde com ingenuidade, de uma prudência  que não fica amarrada à insegurança ou indecisão e de uma inteligência sempre aberta à sabedoria divina.

Nas palavras do evangelho que têm viva e plena ilustração no próprio Jesus de Nazaré que não tinha onde reclinar a cabeça, encontramos a referência para o estilo de vida sacerdotal no nosso tempo. Um estilo mais simples e sóbrio, um estilo mais próximo e acolhedor das pessoas, capaz de sair, de ir ao encontro de todos, sobretudo dos pobres e dos frágeis.

O contexto social e cultural em que vivemos, bem como o importante processo sinodal que a Igreja está a viver, têm evidenciado a necessidade de uma mudança de paradigma no modo de exercer o ministério sacerdotal. O acento deve passar do poder para o serviço, a inspiração deve ser evangélica e não mundana; a atitude mais sinodal e menos autorreferencial. Um ministério que se abre e promove outros ministérios e menos um ministério que concentra tudo em si, dispensando os outros. A conversão a este estilo mais evangélico é indispensável para que o ministério sacerdotal seja mais credível, atrativo para os mais jovens e inspirador para todos os que buscam referências para o seu caminhar na fé.

O sacerdote é acima de tudo um dom e um sinal de Deus. Foi chamado por Ele e é enviado a servir a sua Igreja. Essa raiz do ministério recomenda que uma vida sacerdotal para ser fecunda, fiel e feliz precisa de estar ancorada numa profunda espiritualidade. Aquela espiritualidade própria do padre diocesano que se alimenta na oração e na liturgia quotidianas. Nela encontrará a fonte onde beber sobretudo nos períodos de maior secura, solidão ou provação.

No evangelho, Jesus indica aos discípulos que sejam anunciadores e portadores da paz. O padre é um homem de paz, é chamado a ser instrumento da paz que Deus deseja para o mundo. Num tempo em que na sociedade se acentuam fraturas preocupantes, em que há feridas provocadas por divisões nas famílias e comunidades, é fundamental que um ministro da Igreja sinta a urgência de anunciar a paz, propôr o diálogo e o exercício da fraternidade e do perdão.  Apesar das retóricas belicistas é preciso não desistir de acreditar na paz, justa, autêntica e digna, nem deixar de estabelecer pontes.

Embora homem de Deus, um sacerdote não perde a sua humanidade, antes transporta sempre consigo a sua história, os seus sonhos e projetos, as suas limitações e fraquezas. Para São Paulo essa consciência ajudou-o a ser mais humilde e a sentir-se mais próximo e identificado com Cristo na cruz. A vida do padre não está isenta de momentos de cruz, de dor e sofrimento. O segredo é vivê-los, como o Apóstolo, em comunhão com Cristo, sabendo que a sua cruz nos leva sempre à vitória e à vida.

A última palavra só pode ser de alegria e de esperança. Os setenta e dois voltaram cheios de alegria e maravilhados com o que tinham conseguido fazer. A convicção de quem vai iniciar o caminho só pode ser a de que o Senhor fará grandes coisas em vós e através de vós. Essa expectativa é confirmada pelo ministério de tantos padres ao serviço desta diocese nestes cem anos, cujas vidas sacerdotais foram belas e felizes porque que frutificaram com alegria. Que Deus Vos abençoe e Maria, nossa mãe e padroeira vos proteja.    

Vila Real, 3 de julho de 2022         

+António Augusto Azevedo
Bispo de Vila Real

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