Homilia – Missa Crismal

MISSA CRISMAL – QUINTA FEIRA SANTA

A Missa Crismal representa, no contexto das celebrações pascais, um momento singular de ação de graças a Deus pelo grande dom que constitui o sacerdócio. Jesus, o Ungido, o único e eterno sacerdote, sempre chamou a si alguns homens a quem ungiu e enviou como continuadores do seu sacerdócio. Por isso neste dia agradecemos ao Senhor este dom sagrado da vocação sacerdotal, ter escolhido cada um de nós para esta missão e ter-nos ungido com o seu Espírito. Todo o povo de Deus é também convidado, hoje e sempre, a agradecer a vida e a dedicação dos sacerdotes que estão ao seu serviço.

Nesta celebração um gesto de especial relevância é precisamente o da renovação da promessas sacerdotais. Mais do que um rito formal, ele manifesta a vontade de cada um em permanecer fiel aos compromissos da sua ordenação com uma renovada consciência de que o Senhor e a Igreja contam com cada um, com o seu empenho e o seu testemunho. Da mesma forma que Jesus voltou à sinagoga da sua terra onde leu uma profecia, afirmando o seu cumprimento, também cada um volta a esta Catedral onde provavelmente foi ordenado, para afirmar a sua fidelidade à palavra dita na sua ordenação. Um SIM dito hoje com mais experiência, maturidade e realismo, sem deixar perder nada do sonho e do entusiasmo do primeiro dia. De facto o sonho e a utopia precisam de incarnar mas circunstâncias concretas pessoais, eclesiais ou históricas.

Tendo em conta o contexto presente da vida da Igreja e do mundo queria, em primeiro lugar, desafiar os sacerdotes a fazerem seu o lema da diocese: «aprofundar as raízes». Neste ano preparatório da celebração do centenário, é conveniente e justo trazer à memória as pessoas mais marcantes no despertar e no cultivar da vocação de cada um, os clérigos que se ocuparam da formação sacerdotal, os leigos que colaboraram nas estruturas diocesanas ou cooperaram com os párocos na vida pastoral das comunidades. Este exercício de uma memória grata ajuda-nos a consolidar a nossa identidade e a assumir o nosso papel de protagonistas da história presente. Somos os sacerdotes deste século, ao serviço deste povo, bem enraízados na cultura e história desta Igreja, sempre consolidados na fé em Jesus Cristo.

Neste dia tão significativo, peço ainda que todos nos empenhemos em reforçar a fraternidade e a unidade no presbitério. O desígnio que o Papa aponta a toda a humanidade na Carta Encíclica Fratelli Tutti carece de ser exercitado antes de mais no interior da Igreja. Uma fraternidade que começa na atenção e cuidado pelo colega, sobretudo quando está mais fragilizado pela doença ou idade, e se alarga em gestos de partilha e entreajuda. Uma fraternidade que parte do coração capaz de estimar o outro como irmão, se aprofunda na oração de uns pelos outros e se visibiliza no gosto de estar com todos e na capacidade de trabalhar em conjunto. Se queremos um mundo mais fraterno, comecemos desde já a construir comunidades mais fraternas e a trabalhar por um presbitério de verdadeiros irmãos.

Atendendo à situação difícil que vivemos e na expectativa que a pandemia seja progressivamente superada, apelo à necessidade de renovar as energias espirituais do clero e de todos os fiéis. Sem negar, antes no intuito de vencer algum cansaço acumulado e outras dificuldades, preocupações e angústias, fortaleçamos os laços da fé que nos unem a Jesus Cristo pelo seu Espírito. Os sinais sacramentais que nos deixou, a oração que consolida a nossa comunhão com Ele e com a Igreja, são os grandes mananciais que revigoram as nossas forças. De facto, nos próximos tempos iremos precisar de redobrada energia não só para apoiar os mais fragilizados do nosso povo mas também para reativar com espírito nova a vida pastoral das nossas comunidades. Para que esta tarefa seja bem sucedida importa lembrar que não será possível voltar ao estado pré-pandemia mas vai ser indispensável ousar caminhos novos como resposta a uma realidade que se alterou.

No evangelho desta Missa Crismal escutamos como Jesus apresentou a profecia messiânica de Isaías como a referência fundamental da sua existência. Foi precisamente na fidelidade à missão de anunciar a boa nova aos pobres, proclamar a redenção aos cativos, a vista aos cegos e restituir a liberdade aos oprimidos que Jesus andou três anos por terras da Galileia e depois foi preso e condenado à morte na cruz em Jerusalém. À luz desta palavra, este é um dia propício para aferirmos as prioridades da nossa vida, para sintonizarmos os objetivos da nossa missão com os que serviram de orientação a Jesus.

O testemunho de uma autêntica vida sacerdotal faz falta como profecia para o nosso tempo. Ser padre, mais do que uma questão de estatuto social ou busca de interesses e seguranças, precisa hoje de se inspirar no estilo e no programa evangélico de Jesus. O mundo carece de alguém que fale de Deus e seja sinal de Deus; as pessoas, a começar pelas mais vulneráveis, precisam de quem as escute e as acolha, de alguém que lhes abra horizontes de esperança e liberdade. Este é o papel insubstituível do padre no nosso tempo. Mais do que funcionário, empresário ou técnico social, o padre, embora tenha de responder a algumas solicitações dispersivas, precisa de ser, acima de tudo, sinal de Deus, irmão dos seus irmãos, bom pastor do rebanho a si confiado.

Para Jesus, a fidelidade à missão deu sentido a todos os seus dias e conduziu-o até à cruz. Para nós sacerdotes deste tempo, a missão é igualmente exigente e podemos até conhecer momentos de incompreensão ou sofrimento mas sabemos que o Espírito do Senhor está sempre connosco. Ele manterá acesa em nossos corações a paixão pela missão, a alegria de servir, a força interior para sermos fiéis até ao fim.

Reunidos neste dia santíssimo à volta do altar desta Catedral peçamos ao Senhor que nos confirme na nossa missão sacerdotal. Maria Santíssima nos conforte com a sua proteção maternal e São José nos ajude com a sua poderosa intercessão.

Vila Real, 1 de abril de 2021

+António Augusto de Oliveira Azevedo

https://youtu.be/MLuJfaX5vOc
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