Entre os dias 4 e 6 de Julho de 2022, se alguém procurasse um padre com menos de 40 anos na diocese de Vila Real, teria alguma dificuldade em encontrá-lo noutro sítio que não na belíssima cidade de Chaves. E porque em Chaves? Porque o clero mais jovem (e não só, mas especialmente ele) acorreu a terras flavienses. E porquê? Porventura, serás tu o único forasteiro que não sabe o que lá sucedeu nesses dias?
A cidade transmontana acolheu nesses dias a XV edição da CLERICUS CUP, o torneio de futsal do clero, que congrega equipas de padres de diferentes dioceses do nosso país. Este ano a competição contou com a presença de perto de uma centena de padres, pertencentes às dioceses de Vila Real, Guarda, Viseu, Porto e Braga, que concorreu com duas equipas: Augusta e Bracara. Também a Congregação dos Padres Vicentinos marcou a sua presença.
A equipa vila-realense, com uma média de idades bastante baixa, congregou em Chaves grande parte do clero mais jovem da diocese, não só para jogar, mas também para colaborar na organização do certame, que se procurou que se realizasse na diocese de Vila Real de forma a marcar essa efeméride que é a celebração do seu centenário.
E agora perguntam vocês: qual o objetivo desta competição?
Miguel Santos, um dos mais recentes padres da diocese de Vila Real, ordenado no passado domingo, dá-nos a resposta, na entrevista que deu à TSF: o principal objetivo é “o convívio, a alegria, a partilha de experiências e conhecer colegas de outras dioceses com realidades diferentes”.
O Pe. César Mendes, da Congregação dos Padres Vicentinos, corroborou esta ideia, na entrevista que deu à Rádio Renascença: “à parte dos jogos, nós acabamos por ter também muitas partilhas, partilhas de experiências. Partilhamos as nossas alegrias, as nossas tristezas. Trabalhamos em várias dioceses e em contextos diferentes, cada um tem a sua especificidade e estarmos juntos permite-nos recarregar baterias, na medida em que partilhamos as nossas vidas”.
Poderíamos, contudo, dizer que o principal motivo para a realização deste evento foi sublinhado por D. Leonardo, Bispo de Ourense, na eucaristia que congregou todos os participantes no Santuário de São Caetano, em Ervededo. O prelado salientou que a Clericus Cup é uma forma de os padres poderem ser uma “boa notícia”. Num tempo em que o “todo” é tomado pela “parte” e em que os padres são olhados com desconfiança, por ser colocada sobre si a culpa de alguns, é bom que a força do “todo” possa tirar de cima dos sacerdotes o peso que a “parte” lhe incute. Esta competição de padres é uma “Boa Notícia” de fraternidade, de comunhão, de inculturação do Evangelho, para um mundo marcado pela guerra e pela discórdia.
D. António Augusto, bispo de Vila Real, também salientou que o desporto poderá ser um espaço privilegiado para incutir os valores do respeito, da competição saudável e da cultura evangélica.
O sentido desta competição também se encontra bem plasmado no nome da iniciativa que a Equipa de Vila Real tem vindo a desenvolver de alguns anos para cá: o “Passa a bola, passa o Amor”. Esta actividade consiste em visitar várias escolas do distrito, proporcionando aos alunos um jogo de futebol com os jogadores da equipa vila-realense. Depois, do “passar a bola” passa-se à outra parte, o “passar-se o amor”. Depois de se despertar a curiosidade dos jovens para os padres que jogam à bola, chega a hora de lhes “rematar” a sua experiência de vida, o seu testemunho enquanto pessoas que deixaram tudo para “passar o amor” do ‘Mister dos Misteres’.
Chegados ao final e feito o balanço, agora podemos perguntarmo-nos se se alcançaram os objectivos pretendidos com este certame.
Em termos competitivos e desportivos, podemos dizer que a equipa da Diocese de Vila Real ultrapassou a fasquia que sonhara alcançar: ganhou a final do torneio, jogada contra Bracara, por 3-0, conquistando o seu quinto título na competição e tornando-se tricampeã, depois de ter vencido as duas últimas edições.
Quanto aos objectivos humanos e evangélicos, poderemos dizer que estes também foram amplamente alcançados: os padres fizeram-se ‘evangelho’, fizeram-se ‘boa notícia’ e ‘passaram’ ao mundo um testemunho de fraternidade, de comunhão, de sã convivência, de respeito, de perdão, da presença de Deus nas diferentes circunstâncias da vida.
Para prová-lo deixo-vos apenas dois exemplos, dois testemunhos de que a semente do Evangelho foi lançada à terra, de que foi acolhida e de que poderá vir a dar muito fruto. Estes são dois casos de que tive conhecimento, entre muitos outros que, com certeza terão surgido, muitos dos quais só ‘Aquele que Sonda os Corações’ terá conhecimento.
A primeira situação é a de um miúdo, o Tomás, que, apaixonado por futebol, acabou por encontrar no Miguel, o ‘Mágico’ da equipa de Vila Real, um herói, um ídolo a seguir e a imitar, no futsal e na vida. Está passada a bola, está passado o amor, está lançada a semente do Evangelho!!!
O outro testemunho é o de um jovem, Mário Ribeiro, que colaborou como voluntário na organização do evento:
«Foi de facto, curioso, quando me abordaram para trabalhar como colaborador para o Clericus Cup, quando o simples ato de “doar” tempo para ajudar um evento relacionado com dioceses me parecia completamente fora da minha zona de conforto. Não poderia estar mais enganado em relação a um evento. Foi revigorante ver algo organizado em nome da união e do bem-estar de uma comunidade, quando tudo parece ir a favor de uma discórdia e desconfiança mútua. Foi lindíssimo poder assistir a uma partilha mútua de tradições, costumes e vivencias de vidas de diferentes padres de cada diocese que participou nos eventos ao longo de 3 extenuantes, mas fascinantes, dias. Tudo, fragmentos de vidas que compõem uma extensa tapeçaria de histórias de diversas origens pelas diferentes regiões de um mesmo país.
Enquanto tivermos momentos como estes que promovam a solidariedade, a união, o desportivismo e a ocasional ‘galhofa’, conseguiremos abrir portas para tornar este mundo, um pouco menos cinzento».
O Pe. Miguel Santos disse à TSF: “As pessoas não têm essa noção, mas não é fácil ganhar a uma equipa de padres. Se estiverem bem organizados é preciso ter cuidado com eles, tanto na seleção como neste torneio”. E eu acrescentaria que também na vida, se eles estiverem bem organizados, focados, a jogar em equipa, também é preciso ter cuidado com eles!!!
Chegou ao fim mais uma edição da Clericus Cup, onde uma equipa unida trouxe também uma vitória para a organização do evento. Deixamos aqui o nosso ‘muito obrigado’ a todos aqueles que de uma maneira ou de outra, nas mais diversas instâncias, contribuíram para a concretização desta edição.
Esperamos ansiosamente a próxima Clericus Cup, mas até lá, continuemos a ‘passar a bola’, ‘a passar o amor’ e a ser a ‘Boa Notícia’ de que o mundo precisa. E, como diria o Pe. Miguel: ‘cuidado connosco’!!!
Pe. Luís Coutinho,
‘Assessor de Imprensa’