A celebração do Dia da Diocese é, desde há vários anos, um momento singular da vida diocesana. É momento de encontro de clero e leigos provenientes das várias zonas do nosso vasto território; é momento de reafirmar a fé que nos une como Povo de Deus e de renovar a esperança que anima o nosso compromisso eclesial. Acima de tudo, em linha com a experiência da celebração do centenário da diocese em 2022 e da peregrinação a Fátima no ano passado, estes encontros ajudam-nos a tomar uma consciência mais viva de ser diocese, de pertencer a uma Igreja local, expressão real e concreta da Igreja de Jesus Cristo. Alargam, portanto, os horizontes da nossa fé, aprofundam a nossa comunhão com Cristo e com os irmãos, ajudam a perceber o sentido mais amplo do trabalho pastoral de sacerdotes e de leigos.
Neste domingo em que celebramos a Solenidade da Ascensão do Senhor, o evangelho convida-nos, em primeiro lugar, a assumirmos a condição de discípulos de Cristo, reunidos em volta do Senhor, que também hoje nos relembra o essencial da fé e o sentido da missão. Antes de partir, foram estes os dois elementos essenciais que Jesus apontou aos discípulos, os pilares onde iria assentar a construção da Igreja.
Aos seus discípulos Jesus refere o anúncio pascal como a mensagem a espalhar pelo mundo, o acontecimento cujos efeitos salvíficos precisam de chegar a todos. Neste ano jubilar a Igreja assinala os 1700 anos do concílio de Niceia, em que a nossa fé encontrou a sua formulação no Símbolo a que chamamos Credo. Somos convidados a reconhecer que a fé é precisamente o grande elo que nos une. Acreditamos que Jesus é o Senhor, que Deus é Criador e Pai de bondade e que o Espírito de Amor, derramado nos nossos corações, nos encheu da sua vida. A afirmação pascal e batismal do «EU CREIO» torna-se a grande proclamação de «NÓS CREMOS». Apesar de todas as diferenças, a proclamação da mesma fé constitui um traço de união que nada poderá quebrar. Afirmar a nossa fé na Igreja «Una, Santa, Católica e Apostólica» é a expressão mais bela e profunda do que representa pertencermos a esta comunidade de batizados, à família dos crentes em Cristo.
Nos tempos que vivemos, afirmar a fé, seja de modo formal quando rezamos o Credo ou de modo mais informal, em várias circunstâncias da vida pessoal e social, deve representar um ato de coragem, inspirada na dos primeiros apóstolos. É também um ato de gratidão a Deus que nos concedeu este dom e a todos aqueles, familiares, sacerdotes, catequistas e outros educadores que nos transmitiram a fé. É ainda um ato de inteligência e de consciência, dado que ser cristão nos nossos dias é uma manifestação de profunda liberdade interior que leva a pessoa a aderir às convicções, princípios e valores que reconhece como essenciais para a vida.
Antes de ascender ao céu, naquele encontro de despedida daqueles que foram os primeiros a acreditar, Jesus apontou a nova missão: ser testemunha d’Ele, ser enviado até aos confins da terra. Esta é a razão de ser originária e permanente da Igreja: a missão de anunciar e testemunhar Jesus Cristo. Foi assim então, é assim hoje e será até que Ele venha.
O Dia da Diocese é uma excelente oportunidade para todos renovarmos o compromisso para com a missão da Igreja. Esta é uma questão decisiva neste início do terceiro milénio. Em tempos de rápidas mudanças, de profundas alterações culturais, em que as sociedades se confrontam com sérias encruzilhadas é essencial perceber qual é a nossa missão. Como Igreja não nos podemos instalar, contentar com a mera manutenção, muito menos amedrontar com os desafios. Seguramente para aqueles Onze que rodeavam Jesus a tarefa era bem mais audaciosa. Como eles, importa que todos sintamos que hoje somos chamados a ser testemunhas do evangelho, todos somos enviados como testemunhas da fé em Cristo Ressuscitado.
A este propósito gostaria de destacar a dedicação de tantos sacerdotes ao serviço das comunidades, o empenho e compromisso de tantos leigos, homens e mulheres, nos mais diversos campos de missão, na catequese e nos grupos litúrgicos, nos movimentos, nas instituições de apoio social. Mas não posso deixar de reconhecer a alegria da fé e o testemunho de muitos jovens. Tenho ficado impressionado também com os sinais das crianças das nossas comunidades.
Neste Dia Mundial da Criança damos graças a Deus por todas as crianças das nossas famílias e paróquias. Gostaríamos que fossem em maior número, mas dão sinais promissores de abertura à fé. Não deixamos de pensar também em tantas crianças do nosso mundo vítimas das guerras ou sem condições mínimas de alimentação, saúde, habitação ou ensino. A nossa missão como pessoas e cristãos é proteger as crianças, cuidar delas criando as condições para que tenham um futuro melhor.
Naquele encontro que culminou com a Ascensão, Jesus convidou os discípulos a esperarem a força do alto, o Espírito Santo. De facto o Espírito é o grande protagonista do tempo novo, a alma da Igreja, o dinamizador indispensável de toda a sua atividade. De modo concreto, no processo sinodal em que a Igreja está envolvida, é necessário atender a todas as inspirações que o Espírito acerca dos passos a dar. Precisamos com urgência da uma renovação pastoral que só será possível e efetiva se caminharmos juntos, se todos estiverem abertos à ação do Espírito e comprometidos com a missão eclesial.
Lembrando as palavras de S. Paulo na Carta aos Efésios, precisamos que «o espírito de sabedoria ilumine os olhos do nosso coração para compreendermos a esperança a que fomos chamados». É o Espírito que vem do céu, que procede do Pai e do Filho que nos ajudará a perceber melhor o significado da esperança cristã, aquilo a que Deus nos chama, o que tem ainda reservado para os seus filhos. Invocando o Espírito de Deus que nos revestiu no batismo e ungiu na Confirmação, encontraremos o fundamento para uma esperança renovada. Sempre que estamos sintonizados com o Espírito, dóceis e abertos à sua ação nunca cederemos ao egoísmo, à discórdia ou ao desânimo. Pelo contrário, encontraremos sempre a razão para continuar a caminhar e a trabalhar com alegria.
No relato do livro dos Atos, os Apóstolos são advertidos pelo próprio Jesus que a ação do Espírito não equivalia ao «restaurar do Reino», não se podendo confundir com um olhar para trás, preso ao passado. Da mesma forma os dois personagens vestidos de branco, explicaram que não fazia sentido ficar a olhar para o céu. Até que o Senhor venha, no final dos tempos, importa olhar para a realidade concreta, para os desafios de cada tempo, confiados que o Senhor está sempre connosco. O seu Espírito pode ter um grande poder em nós cristãos e pode ajudar-nos a abrir caminhos novos na história presente.
No final deste dia partiremos para as nossas casas, para as nossas comunidades, para os nosso trabalhos. Mas iremos, certamente, mais fortes na fé, mais confortados pela comunhão no mesmo Espírito e cheios de uma esperança renovada. Como «peregrinos de esperança», neste Ano Jubilar, cada pessoa, cada família e comunidade estará, assim, mais preparada e capaz para ser fiel à missão que o Senhor Jesus lhe conferiu.
Que Maria, Senhora da Conceição, padroeira da nossa diocese, ampare a todos com a sua proteção maternal.
Cerva, 1 de junho de 2025
+António Augusto de Oliveira Azevedo