Homilia – Ordenações de diáconos (Domingo III do Advento)

Neste 3º domingo do Advento damos mais um passo no caminho espiritual para acolher o Senhor que vem. A alegria é proposta como atitude e clima apropriado para receber o Filho que o Pai nos envia. Neste Domingo a Igreja diocesana de Vila Real experimenta uma redobrada alegria com a ordenação no ministério de Diácono de dois jovens: o Cristiano e o Daniel.

O evangelho deste domingo destaca o papel decisivo de João Batista, apresentado como aquele que veio «para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele». Desta forma é definido o objetivo da sua missão. Esta figura maior do advento pode inspirar-nos hoje no aprofundamento do sentido da ministério ordenado. Como o Precursor, também os discípulos foram enviados, mais tarde, a anunciar uma boa nova: aquele Jesus que nasceu em Belém, depois de morto na cruz, ressuscitou e está vivo para sempre. Depois deles, todos ministros são sempre chamados e enviados

As perguntas acerca da identidade e missão de João: «Quem és tu?», «Porque batizas?», podem agora, em novo enquadramento ser colocadas àqueles que Deus chama para servir o seu povo. Importa que as respostas de todos nós, ministros ordenados (e candidatos), sejam dadas com o mesmo desassombro e clarividênciaa de João Batista. Para isso é fundamental, antes de mais, que cada um se coloque, claramente, a si mesmo estas perguntas e , sem medo mas com coragem humilde, saiba dar respostas convincentes.

O sentido profundo da identidade e da missão do ministro ordenado decorrem, seguindo ainda o exemplo do Precursor, da relação com Jesus Cristo. «Eu não sou digno de desatar as correias das sandálias» poderia ser adaptado a um «não sou digno de ser chamado à grande dignidade» de ministro de Cristo». Essa dignidade resulta, antes de mais da consciência de que a razão e a origem de todo o chamamento é a liberdade amorosa de Deus. A resposta da pessoa deve assentar numa fé profunda e numa total disponibilidade para servir o Senhor, sempre confiando que Ele nunca abandona os que chama.

A plena noção daquilo que somos e fazemos, permite cumprir também hoje a mesma palavra do Evangelho: nós não somos a luz, mas damos testemunho e apontamos para aquele que veio como Luz do mundo. Nós não somos o centro à volta do qual tudo e todos giram, porque esse lugar pertence ao Senhor. Como João nós somos voz, emprestamos a voz, para que a Palavra que vem de Deus possa ressoar. Essa Palavra é recebida solenemente na liturgia da ordenação, acompanhada com a significativa recomendação: «Crê o que lês; ensina o que crês; vive o que ensinas». Assim, a Palavra de Deus, incansavelmente lida e ensinada, pode também frutificar e fazer-se vida no quotidiano do ministro ordenado.

A ordenação é acontecimento que, por excelência, concretiza e atualiza o batismo do fogo, profetizado por João. De facto  é o Espírito Santo que unge e santifica o candidato. É a força do Espírito que o transforma e renova para estar à altura de uma missão sagrada. É pela ação do mesmo Espírito que se experimenta aquela alegria que ninguém pode tirar porque alicerçada na presença constante de Deus.

Caros ordinandos, vale para vós e para todos o apelo de São Paulo: «Não apagueis o Espírito, não desprezeis os dons proféticos». Um dos segredos maiores para um ministro da Igreja é ser capaz de fazer com que o entusiasmo da sua ordenação não se transforma em desencanto ou desilusão. Para isso é preciso avivar a consciência da ação do Espírito ou «orar sem cessar» como recomendava o apóstolo. Não desvalorizemos os impulsos de criatividade que o Espírito suscita em cada um em ordem à construção e renovação da Igreja. Desta forma a vida do ministro pode escapar ao peso da rotina e transformar-se em permanente novidade, fazendo com que o entusiasmo inicial estabilize numa alegria permanente.

Guiados pelo mesmo Espírito que conduziu o Messias, é necessário exercitar constantemente um autêntico discernimento, isto é, «avaliar tudo, conservando o que for bom». O ministério ordenado requer esse exercício permanente de modo o evitar tudo o que é prejudicial ao ministério, a afastar-se das ilusões do poder, da vida fácil e cómoda, do protagonismo vazio e superficial, da cedência à inércia.

Um discernimento que favoreça aquela maturidade que evite o andar ao sabor das modas, mesmo as eclesiáticas, ou o deixar-se acantonar em lógicas particularistas. Assim aconteceu com algumas ilusões românticas do pós-concílio e parece suceder agora com certas posturas retauracionistas. Estas, além de anacrónicas, estão geralmente associadas a carências teológicas e disciplinares, a fragilidades psicológicas, e, sobretudo são indiciadoras de medo perante o mundo. Um melhor discernimento que favoreça a maturidade e conduza a um compromisso alegre com a missão da Igreja, essa é a urgência de hoje e a necessidade face ao futuro.

Caros ordinandos neste dia grande para vós e para toda a Igreja diocesana, peço-vos, em primeiro lugar, que cada um seja sempre um fiel servidor de Deus e do seu povo. A certeza de que «é fiel Aquele que vos chama» deve suscitar o compromisso de estar sempre disponível para o servir onde a Igreja vos pedir.

Em segundo lugar, como diáconos, sede servidores e ministros da proximidade de Deus. Assim como o Messias, nascido em Belém, foi enviado aos pobres, aos corações atribulados, aos cativos e prisioneiros para lhes levar a boa nova de um Deus próximo, acolhedor, misericordioso e bom, sois vós também enviados a todos aqueles que hoje, nas mais variadas circunstâncias, precisam de sentir que Deus não os esqueceu nem a Igreja os abandonou. Os doentes, os mais pobres, os idosos que tantas vezes vivem na solidão, os emigrantes, as famílias ou os mais jovens que precisam de apoio, mereçam todos o vosso especial cuidado e atenção.

Sede anunciadores alegres da boa nova de Deus para todos, arautos da esperança, profetas de algo maior, Aquele que dos céus nos foi enviado para trazer a paz aos corações e à história dos homens. Acima de tudo, nestes tempos tão desafiantes para a Igreja, contamos convosco para «caminhar juntos para renovar a esperança».

Vila Real, 17 de dezembro de 2023

+António Augusto de Oliveira Azevedo

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