Homilia – Dia da Diocese 2023

O Dia da diocese é um dia particularmente feliz para nós que pertencemos, servimos e amamos esta Igreja. É momento de festa, de encontro e de partilha. A celebração eucarística é o ponto central porque espaço de ação de graças pelos dons que Deus nos tem concedido, momento de encontro profundo com Ele e com os irmãos provenientes das várias geografias da diocese. Na eucaristia somos convidados a viver a festa mais plena e a experimentar o encontro mais profundo com Deus Trindade de amor e uns com os outros.

É precisamente de encontro que nos fala o breve trecho do evangelho de São João. Encontro, diálogo e revelação foi o que Nicodemos viveu naquela noite em que procurou Jesus. Com a sua atitude, aquele velho judeu, homem de fé inquieta, tornou-se imagem dos «buscadores de Deus». Eles sempre existiram ao longo da história, mas hoje é necessário estar atento a tantos homens e mulheres que buscam a Deus. Precisamos de os acolher, caminhar com eles e ajudá-los a que descubram o rosto de Deus. Mas no fundo, cada um de nós, sendo cristão, não pode deixar de buscar a Deus. Mesmo quem o encontrou não se pode iludir pensando que já sabe tudo, correndo assim o risco de cristalizar na fé e ficar parado no caminho. Se já o encontramos, procuremos saber mais, conhecê-lo cada vez melhor, deixando-nos fascinar pelo seu mistério de amor trinitário; se já temos fé, esforcemo-nos por crescer na fé, para que seja mais viva, esclarecida e forte.

Nicodemos, sábio e buscador de Deus, ouviu do próprio Jesus uma das sínteses mais belas da história da salvação e uma das apresentações mais profundas sobre a relação das pessoas da Trindade Santíssima. O Pai amou o mundo e enviou o Filho para salvar o mundo e para que o homem tenha vida. Uma revelação absolutamente nova e ousada para um homem em cujo imaginário povoado ainda por aquela imagem do livro do Êxodo que hoje escutamos: Deus que, no meio da nuvem, se manifesta no Sinai, monte a que Moisés subiu para receber as tábuas da Aliança. Do Sinai ao calvário até ao Pentecostes foi um longo caminho em que Deus esteve ao lado do seu povo e lhe foi mostrando os sinais da sua misericórdia.

Como Povo de Deus que caminha por estas terras há gerações sentimos que Deus tem caminhado sempre connosco e manifestado, de tantas formas, o seu amor por nós.

Esta diocese secular teve como lema no triénio que agora termina: «Crescer com raízes». A valorização das nossas raízes de fé e cultura foi um exercício rico e útil para o reconhecimento da nossa identidade e para nos preparar para responder aos exigentes desafios que temos pela frente. Descobrimos como são profundas as raízes da nossa fé, como é forte a nossa união com Cristo, como o ramo à videira. Ao longo do último século muitos frutos foram produzidos, nomeadamente na vida de tantos cristãos, clérigos e leigos que viveram fielmente a sua vocação e missão.

Desejamos, certamente como Deus espera de nós, produzir mais e melhores frutos, agora e no futuro. Para isso importa reconhecer os dons que o Espírito concede a esta Igreja e a cada um dos seus membros. Nos jovens, nos casais e nas famílias, nas mulheres e até nas pessoas mais idosas percebemos que há tantas capacidades por descobrir e pôr a render. Mas a natureza também nos ensina que, por vezes, não são produzidos os frutos esperados porque houve falhas no trabalho, alguma praga se infiltrou, o tempo não foi favorável ou se levantou alguma intempérie.

A produção de bons frutos implica, além de paciência, a consciência de eles brotam a seu tempo, em cada ano, na estação própria. Por outro lado, eles surgirão mais abundantemente e com melhor qualidade se cada um fizer bem o seu trabalho, de forma dedicada e empenhada, estando atento para que nenhuma praga nos contagie. Na Igreja todos os trabalhos, cargos e missões são igualmente importantes; na Igreja as pragas do egoísmo, do interesse próprio, da divisão e maledicência, do clericalismo, de todas as formas de abuso e outras estão sempre à espreita. Sem esquecer que o ambiente que nos rodeia, em muitos aspetos não é favorável. No contexto atual é mais propenso a apontar os erros, divulgar o que é negativo, do que valorizar tanto bem que se faz, tantas iniciativas de grande valor.

A Solenidade deste dia convida-nos a meditar e adorar o mistério da Trindade divina cujo segredo maior é a profundidade da relação, o amor pleno que une o Pai e o Filho e se manifesta no Espírito de amor. Para que esta vinha do Senhor possa frutificar mais abundantemente e com alegria, é decisiva a comunhão de vida e de amor que nos une a Deus e uns aos outros. O segredo maior da vida da Igreja é o amor que a habita, o Espírito  de Deus que a conduz e a fé que aquece tantos corações. Quanto mais se potencia o amor que nos une a Deus e uns aos outros mais vitalidade terá esta Igreja e mais frutos poderão acontecer. Quanto mais cada um se fechar sobre si, inamovível nas suas certezas ou preso às suas conveniências, mais difícil se tornará o circular da seiva divina que tudo fecunda.

O Dia da diocese, tal como referimos no último ano, é uma evento que promove a consciência de Igreja diocesana. O sentimento de pequena comunidade está muito enraizado. O sentido de paróquia, mesmo atendendo à diversidade de situações, precisa inda de ser aprofundado. Quanto ao sentido de diocese, esse permanece ainda muito vago, longínquo e distante. Apesar do caminho dos últimos cem anos, a diocese ainda aparece como uma estrutura distante e administrativa. Crescer na fé implica também crescer na consciência de diocese, ou seja, naquela noção sublinhada pelo Concílio de ela é a porção do Povo de Deus, num determinado território, presidida pelo bispo com a colaboração do presbitério. É nela que se realiza plenamente o mistério da Igreja. Crescer na fé é também alargar os horizontes da mente e do coração acerca da realidade eclesial.

Este dia especial, dia de encontro e de ação de graças, deverá culminar numa atitude de compromisso por parte de todos e cada um de nós.

1.º Compromisso renovado em caminhar juntos. Foi um dos desafios que lancei há quatro anos quando cheguei à diocese. Agora poderíamos acrescentar, por indicação do Papa Francisco, caminhar em espírito sinodal, de abertura, diálogo e estima de uns pelos outros, sabendo que também na Igreja, como na vida, todos precisamos de todos. Só assim o rosto da Igreja será mais belo, renovado e atraente.

2.º Compromisso em colocar todos os dons e carismas que Deus nos concedeu, as várias estruturas e ministérios ao serviço do essencial: anunciar e testemunhar o Evangelho. Proclamar que Deus não desistiu do mundo mas quer salvá-lo; testemunhar que quem acredita tem vida, uma vida mais feliz e abundante.

3.º Compromisso de ser alegres, como recomendava São Paulo, animando-nos uns aos outros. Uma alegria fundada na confiança em Deus e que nos impele a trabalhar com outro espírito. Trabalhar nos vários âmbitos da vida da Igreja sabendo que em cada estação haverá frutos novos, em cada geração há expressões diferentes. O fundamental é a nossa dedicação, como clero ou leigos, em ajudar a renovar comunidades, fortalecer as famílias, acompanhar a formação dos  mais novos, cuidar dos mais frágeis, acolher os que chegam de novo. Este é o terreno que nos foi dado trabalhar para que Deus possa depois fazer germinar bons frutos.

Meditando na vida trinitária, acreditamos que Deus é vida, relação de pessoas, ação sempre movida pelo amor. Acolhamos o amor que Deus tem para com todos de forma que toda  a nossa ação seja também ela, expressão de amor a Deus e aos irmãos.

Invoquemos a proteção maternal de Maria, Nossa Senhora da Conceição, para que guarde e proteja a todos os que fazem parte da nossa amada Igreja de Vila Real.

Boticas, 4 de junho de 2023

+António Augusto de Oliveira Azevedo
Bispo de Vila Real

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