A perda e o luto

A propósito do Painel “Temas que se cruzam: diálogo sobre a perda e o luto” organizado pelo Secretariado diocesano da Família, no passado dia 29 de outubro, no qual se ouviu a palavra de um psicólogo, Paulo Vítor Lisboa, e de um padre, António Areias e também a partilha de experiências pessoais e algumas interrogações, deixamos este breve apontamento.

Nestes dias somos convidados a fazer memória agradecida dos nossos defuntos. Defuntos são os que deixaram de exercer a sua função nesta terra porque morreram.

Todos os dias morrem pessoas. Mas a experiência real da morte que temos é a perda dos que conhecemos e mais ainda dos que nos são queridos. Neste caso, a morte assusta-nos, afeta-nos, porque nos deixa na solidão, porque se rompe um precioso vínculo de amor e amizade.

Desde o choque da perda, à sua negação, à raiva, às lágrimas, à depressão… até à reorganização das nossas vidas vai um processo de luto, que tantas vezes é longo, doloroso e até traumático. Esta experiência foi descrita e matizada pelo Paulo Vítor. É uma travessia de avanços e recuos.

Para muitos, a superação passa por uma nova maneira de se relacionar com os seus entes queridos que morreram.

“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. Esta célebre frase de Antoine de Saint-Exupéry no seu livro “O Principezinho” expressa uma realidade: a relação entre as pessoas vai para além do tempo e do espaço.

O padre António Areias fez referência ao modo como muitos dos nossos contemporâneos buscam esse relacionamento a partir do esoterismo, new age ou filosofias orientais que apontam para a reencarnação. Ilustrando com a sua experiência pessoal referiu a importância de haver tempo para as pessoas chorarem juntas. Apresentou a perspetiva cristã da Ressurreição que dá valor ao “eu” de cada ser humano, como único e irrepetível, ao amor salvador de Deus por cada pessoa, à comunhão misteriosa através de Jesus Cristo e da sua Igreja. Tudo isso nos pede paixão pela vida e um esforço de santificação.

Muitas interrogações se colocaram ao modo como a Igreja acompanha as pessoas enlutadas.

Particular destaque mereceu o papel do padre. Começa com todo o trabalho formativo dos cristãos para saberem encarar a “naturalidade” da morte na perspetiva da vida eterna; passa pela sua proximidade junto das pessoas enlutadas e no seu acompanhamento que ajuda a abrir janelas de esperança; tem um papel importante na celebração das exéquias que exigem muita sensibilidade, respeito, nobreza e devem destacar a força da mensagem cristã.

Em conclusão, o padre Manuel Queirós deixou uma pista para uma pastoral com as pessoas enlutadas: exige-se uma resposta que deve ser mais “em coro” não apenas do pároco, mas dos irmãos na fé da comunidade. Esta fraternidade pode ser uma ajuda preciosa em todos os momentos do processo: chorar juntos, rezar, ouvir, contar as memórias, reler as experiências, o envolvimento comunitário. Quem passou por esta experiência está mais qualificado para ajudar outros.

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