FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA
ENCERRAMENTO ANO JUBILAR – 28 de dezembro de 2025
Neste dia, em comunhão com todas as dioceses do mundo procedemos ao encerramento do ano jubilar. A atitude que espontaneamente brota do nosso coração é de ação de graças a Deus porque nos concedeu a alegria de viver este jubileu como tempo especial de graça e indulgência.
A nível local, nos arciprestados, paróquias e grupos foram várias as iniciativas para concretizar o espírito jubilar. Foi significativa a participação em várias peregrinações a Roma ou às igrejas jubilares da diocese. Acima de tudo constituíram belas expressões da fé que nos une, a fé cristã que tem a sua mais bela síntese no símbolo estabelecido pelo Concílio de Niceia há 1700 anos e que representa o traço comum do conteúdo essencial da nossa fé.
A vivência deste ano jubilar não só permitiu valorizar e tomar mais consciência do conteúdo e do significado da fé, mas foi um verdadeiro peregrinar na esperança. A escolha deste lema feita pelo Papa Francisco revelou-se muito sábia e oportuna. De facto as vicissitudes que o mundo viveu no último ano puseram à prova a nossa esperança. Se abundam motivos para abalar a confiança nos homens, a começar nos responsáveis pelos destinos dos povos, em contrapartida, neste jubileu reforçamos a nossa esperança em Deus. Ele nos deu o Filho como nosso irmão em humanidade e nosso Salvador. A esperança que nos abriu, permite-nos ver mais alto e mais longe, confiando que passarão a vaidade e arrogância do mundo e prevalecerá a salvação que Cristo nos trouxe.
Ao longo deste ano fomos peregrinos em esperança, e ela ficou mais forte e esclarecida. O encerrar do jubileu não significa que estagnamos ou ficamos vencidos pelo cansaço. Pelo contrário, mais conscientes da riqueza da fé, renovados na esperança, podemos continuar o nosso caminho como Povo de Deus na história, chamado a partilhar a esperança a um mundo que dela carece ansiosamente.
Terminado o ano jubilar uma nova etapa se abre, um caminho novo é necessário ser trilhado. Em primeiro lugar iluminado pela consciência da nossa identidade cristã relembrada hoje por São Paulo na Carta aos Colossenses: «eleitos de Deus, santos e prediletos». Nas encruzilhadas deste tempo não bastam cristãos de meias tintas, envergonhados ou em part-time, para quem a fé é um adereço secundário. Aqueles que acreditam que o menino nascido em Belém é o Redentor, fazem desta convicção o pilar da sua vida e assumem com espírito novo o compromisso da fé.
Por outro lado, o caminho proposto a todo o crente é o de caminhar na perfeição, tendo por modelo o próprio Jesus Cristo. A sua palavra é a referência fundamental e a caridade a veste que informa o nosso viver. Mas como sucedeu em tantas fases da história, a veste do cristão não pode ser moldada aos interesses e conveniências mas o seu desenho é traçado pelas Escrituras. Nesse sentido são insuperáveis as palavras de São Paulo: «revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência». Caminhar no esforço quotidiano de concretizar estes valores, de se revestir de caridade, de ousar o perdão, são as marcas que o cristão, à imagem de Jesus, é chamado a deixar. Assim a esperança proposta pelo ano jubilar continuará bem viva.
O novo caminho que se abre ao encerrar este ano jubilar, deverá ainda ser um caminho solidário. Coincidindo com a nova fase do processo sinodal, soa mais forte o apelo para caminharmos juntos, ajudando-nos e suportando-nos uns aos outros. O espírito jubilar ajudará a dar um novo impulso à sinodalidade, de modo concreto à sua implementação nas igrejas e comunidades locais. Isso será possível e mais fácil se caminharmos juntos, conscientes de que todos são precisos e de que constituímos uma verdadeira família de crentes.
No evangelho próprio da Festa da Sagrada Família que hoje celebramos, percebemos como Maria, José e o Menino Jesus se vêm obrigados a fugir para o Egito para sua proteção e a regressar ao fim de algum tempo, fixando-se em Nazaré. Uma família em fuga dos tiranos, em busca de segurança e proteção é bem a imagem de tantas famílias do nosso tempo que fogem de novos tiranos, de guerras, da fome e da miséria. O caminho dos cristãos, devendo ser mais solidário entre si, não pode fechar-se à necessidade de tantos à nossa volta. Caminhamos juntos mas caminhamos com todos, porque todos são filhos de Deus, certamente usando as formas e meios mais adequados. Só assim podemos aspirar a um mundo mais humanizado, justo e digno, só assim partilharemos a esperança com todos, porque todos têm direito à esperança.
Um grande sinal de esperança é o da admissão às ordens sacras dos candidatos ao diaconado e presbiterado que terá lugar nesta celebração. Um deles, no seminário faz a sua preparação para o ministério de presbítero. Os outros cinco estão no segundo ano da sua preparação para o diaconado permanente. Todos constituem uma grande esperança para o futuro da nossa diocese. De facto, uma Igreja viva, renovada em espírito sinodal é uma Igreja mais fecunda e diversificada em ministérios, ordenados e laicais. Precisamos de crescer em sinodalidade e de estar abertos à ministerialidade, porque o modelo tradicional, demasiado clerical e fechado, já não corresponde às necessidades e desafios do presente.
Damos graças a Deus pela disponibilidade e generosidade destes candidatos, pelo seu testemunho de fé e pelo seu empenho neste processo de preparação. Que Deus os abençoe e proteja, bem como às suas famílias e comunidades, para que este belo trajeto possa culminar num serviço pleno a Deus e à Igreja. Para isso apelo à oração e compromisso de todos, clero e leigos, porque todos são corresponsáveis na formação.
A terminar partilho convosco duas das grandes lições que guardo deste ano jubilar, a propósito da esperança: a esperança cristã confia em Deus que nunca nos defrauda, mas não nos dispensa de fazer a nossa parte (não basta esperar que aconteça mas é preciso fazer acontecer!); por outro lado a esperança não se conjuga com imediatismos que geram ansiedades mas exige paciência, às vezes infinita paciência.
Ao fechar a porta santa do jubileu que Deus nos abra caminhos novos de esperança e nos dê força para os percorrer.
+António Augusto de Oliveira Azevedo
Bispo de Vila Real
Diocese de Vila Real Diocese de Vila Real