Homilia – Festa da Sagrada Família

Abertura do Ano Jubilar 2025 

Esta solene celebração assinala a abertura do Ano Jubilar na nossa diocese. Convocados pelo Papa Francisco, com toda a Igreja somos convidados a fazer deste jubileu uma oportunidade para renovar a esperança.

O mundo em que vivemos, envolvido em tantos dramas, confrontado com tantas encruzilhadas precisa de redescobrir a esperança, encarar o futuro com novo ânimo. É urgente recuperar a alegria de viver acreditando no futuro, superando cansaços e derrotismos. É urgente ajudar os mais jovens a confiar em si e no amanhã, criar condições para que as crianças possam voltar a sorrir e as famílias a terem condições para viverem felizes.

Neste tempo de Natal proclamamos que, com a encarnação do seu filho que se fez homem como nós, Deus nos abriu a porta da esperança. Ele confirmou que as esperanças que foi alimentando no seu povo ao longo de gerações não foram defraudadas. A esperança que Ele nos aponta não desilude nem engana. Não se confunde com utopias nem acena com ilusões, antes remete para uma salvação que passa pela vida real e pela história concreta.

O evangelho da liturgia desta Festa da Sagrada Família assinala que Maria e José, no contexto daquela peregrinação a Jerusalém experimentaram a preocupação e aflição pela ausência do filho, seguida pela alegria do reencontro e até a admiração pela sua capacidade de falar com os doutores. De outra forma, para nós, hoje, deve constituir motivo de inquietação o distanciamento, o afastamento e até a recusa relativamente a Jesus. Quando a vida (pessoal ou comunitária) dá sinais de que nos afastamos dele; quando sociedade dá mostras de recusar os valores evangélicos, quando o caminho da humanidade se distancia dele, temos motivos para preocupação. Neste contexto, o jubileu é oportunidade de «ir à procura» de Cristo, de voltar a estar perto dele. Assim, este ano deve ser um tempo de renovação espiritual, de reencontro com Cristo vivo, de redescoberta da alegria da fé.

Como Maria e José é essencial uma atitude pró-ativa, um empenho forte nesta busca do Senhor, razão e fundamento da nossa esperança. Nesse sentido, o Papa Francisco alertou-nos que a esperança «não tolera a indolência dos sedentários ou a preguiça dos que se acomodaram no seu próprio conforto, não admite a falsa prudência de ter medo de arriscar. Por isso é incompatível com a vida tranquila de quem não levanta a voz contra o mal ou as injustiças». A esperança compromete-nos, de facto, com a transformação do mundo, constitui-nos em protagonistas na construção do futuro.

O reencontro com Jesus em Jerusalém além de alegria e alívio, suscitou em seus pais surpresa e admiração com a inteligência com que respondia aos doutores. A esta, o luz tempo jubilar é tempo para fazer caminho, para uma peregrinação espiritual que nos leve até Jesus e à redescoberta da sabedoria da sua palavra. O mundo de hoje procura respostas geradoras de esperança. Apesar de o espaço público e mediático estar saturado de palavras, há um vazio porque falta a sabedoria da palavra de Jesus.

No trecho da carta aos Colossenses, São Paulo apresenta alguns sentimentos de que um cristão se deve revestir. Eles são necessários para uma vida familiar mais feliz (como a família de Nazaré) e muito recomendáveis para uma vivência mais plena do ano jubilar. O apóstolo sugere em primeiro lugar a misericórdia, concretizada depois com o convite ao perdão mútuo. O perdão está no âmago do espírito jubilar. Seja o perdão dos pecados, o perdão mútuo ou o perdão das dívidas, são várias formas de perdão que permitem verdadeiros recomeços. Em particular, convido a todos, ao longo deste ano, a redescobrirem a beleza e da força transformadora do sacramento da Reconciliação.

O apóstolo refere ainda e acima de tudo a caridade, como vínculo de perfeição. De facto, a marca fundamental do espírito jubilar é a da caridade. Nesse sentido, o Papa Francisco, na Bula de proclamação de Ano Santo escreve que somos chamados «a ser sinais palpáveis de esperança para muitos irmãos e irmãs que vivem em condições de dificuldade» (nº10). Refere concretamente os presos, os doentes, os migrantes, os idosos e os pobres. Em todas as instâncias da Igreja e da sociedade é requerida uma caridade mais criativa e operativa para levar esperança a muitas vidas.

Finalmente São Paulo refere a paciência, uma virtude cada vez mais rara mas indispensável num tempo tão acelerado como o nosso. A paciência é a «parente próxima» da esperança. Ela ensina-nos a saber dar tempo para que as pessoas cresçam e amadureçam, para que os projetos se consolidem. Sem paciência cresce a ansiedade, a intolerância, a incompreensão e a insatisfação. Precisamos de exercitar a paciência para dar suporte e consistência à esperança.

Nesta celebração de abertura do ano jubilar vão ser ordenados dois novos diáconos. Eles constituem sinais de esperança para esta igreja diocesana. Sinal de esperança porque confirmam que Deus continua a chamar alguns para uma vocação consagrada. Sinal de esperança porque o Flávio e o Gonçalo responderam positivamente ao chamamento de Deus e se prepararam para terem as condições requeridas para o exercício deste ministério. Sinal de esperança porque a igreja espera muito deles, confia que vão ser capazes de colocar toda a sua vida, tempo e qualidades para bem servirem o Povo de Deus.

Caros Flávio e Gonçalo, neste dia de júbilo para vós e para a igreja, recomendo que, no exercício do ministério vos inspireis sempre no modelo de Jesus. Ele dialogou sem medo com os doutores e depois justificou a Maria a sua preocupação com a casa do Pai. Empenho, coragem, capacidade de diálogo com todos são atributos importantes no exercício do ministério ordenado no nosso tempo. Tudo isto tendo sempre como prioridade a missão pastoral que a Igreja nos confere. Aprendei ainda com Maria a «guardar tudo no coração», a não viver de aparências, mas dedicados a servir a Deus e aos irmãos, com o mesmo espírito com que ela o fez ao longo dos anos em Nazaré. Assim contribuireis para que a fé em Jesus cresça e se consolide em muitas pessoas. Dessa forma, as esperanças que hoje trazeis se poderão realizar e as nossas esperanças serão concretizadas.

Vila Real, 29 de dezembro de 2024

+António Augusto de Oliveira Azevedo

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