Neste dia solene de Natal, o evangelho apresenta-nos de modo preciso e profundo a verdadeira dimensão deste acontecimento: «O Verbo fez-se carne e habitou entre nós». No prólogo do seu evangelho, São João refere a encarnação do Filho de Deus como o momento culminante da história da salvação da humanidade. O Verbo que no princípio estava com Deus é o Filho unigénito que entrou no nosso mundo.
Para os cristãos, para todos os homens e mulheres de boa vontade, a celebração do Natal é, antes de mais, momento de graça, afirmação da vida e da possibilidade de um futuro novo. De facto, ao enviar o Filho, Deus falou-nos da forma concreta e real, da forma mais eloquente e expressiva. Através do Filho manifestou a sua glória, comprovando que não esqueceu nem abandonou o seu povo, mas fez-se presente para o reunir e conduzir pelo caminho que leva à salvação plena
A vivência cristã do Natal convida-nos a uma atitude grata e contemplativa perante a grandeza deste mistério. Diante do presépio, como Maria e José, saibamos acolher o menino Jesus e reconhecer naquela criança, nascida em condições tão precárias, a manifestação da glória do divino. O esplendor da glória de Deus presente na carne humana de Jesus é o paradoxo fundamental do cristianismo: como pode o humano conter o divino?. Mas Deus assim o quis.
Em referência ao Natal histórico, somos desafiados em cada ano a cultivar um olhar crente e atento, capaz de reconhecer os sinais da presença de Deus no humano. Tudo o que é humano foi assumido por Deus na encarnação e por isso nos importa e nos diz respeito. A partir da encarnação do Filho, para chegar a Deus não precisamos de fugir do que é humano, mas de o ver com outros olhos, os da fé.
O presépio, além de fonte de inspiração artística, é um manancial de lições para a vida. No centro, na figura do menino Jesus, resplandece a força da vida, mesmo na sua simplicidade e fragilidade. A vida humana é o grande sinal, a obra maior do criador.
Ao tomar carne humana, o Filho de Deus vem lembrar-nos que cada vida conta, que não há dom maior, aventura mais exaltante do que viver. Quem acredita que Jesus é a verdadeira vida, dispõe-se a acolhê-la e a cuidar dela sobretudo nas situações de maior dificuldade, compromete-se a respeitar a vida do outro e a criar condições para que todos sejam acolhidos e tenham uma vida digna.
O quadro de Belém não é idílico uma vez que nos confronta com alguns dramas como o da rejeição (não houve lugar para o menino nascer!) e da pobreza extrema. Apesar disso manifesta valores decisivos da humanidade. Além da vida da criança recém-nascida, o presépio exalta a presença, o cuidado e a ternura do amor da mãe de Jesus e também de São José. Ambos cumprem de forma plena a missão a que foram chamados por Deus. Da mesma forma os pastores se aproximam e saúdam o menino Jesus e os anjos cantam o seu nascimento. Mesmo assumindo as dificuldades humanas, o presépio mostra o valor insubstituível do amor dos pais e da necessidade do reconhecimento e acolhimento na sociedade. O presépio é um hino à vida, àquilo que o humano tem de melhor.
No nascimento de Jesus cumpre-se a palavra do profeta que fala da chegada do «mensageiro que anuncia a paz». A sua vida, desde o início, é uma proclamação e um convite à paz, uma paz «desarmada e desarmante» na feliz expressão do Papa Leão. Nestes dias em que a guerra continua a semear destruição e morte, o Natal é verdadeira profecia e testemunho da paz autêntica, daquela que Deus deseja para todos.
O Natal canta a glória de Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados. Estes, imbuídos de boa vontade, acolhem a Deus no seu coração e se deixam inspirar pela sua mensagem de paz. Assim renovados e cheios do espírito natalício poderão ser verdadeiros construtores da paz. Pelo contrário, quando o coração se fecha no egoísmo, no interesse e na ganância, a paz resume-se a pura retórica vazia, ficando mais frágil. Viver o Natal em espírito cristão significa acolher o Príncipe da Paz, testemunhar e construir a paz que Ele trouxe para todos os povos.
O nascimento de Jesus foi acontecimento que encheu a história de luz. Como dizia o evangelho: «O verbo era a luz verdadeira que vindo ao mundo ilumina todo o homem». Importa, antes de mais, reconhecer e acolher esta luz divina. Na história dos povos, das famílias e de cada pessoa há momentos de escuridão, de tristeza e de sofrimento em que esta luz divina é necessária.
Ao encarnar, Jesus veio acender uma luz de esperança. Veio dizer-nos que está connosco em todas as circunstâncias, sobretudo nas mais difíceis e dolorosas. Na pessoa do Filho, Deus fez-se nosso companheiro de caminho, veio dar-nos razões para superar a tentação da solidão e do desânimo.
Quando tomamos plena consciência da presença do Emanuel, o Deus-connosco, da importância da salvação que trouxe para toda a humanidade, podemos então experimentar a alegria do Natal, aquela que viveram Maria e José, os anjos e os pastores. A alegria de quem se sente amado por Deus, de quem acredita que em Jesus se abre a grande esperança na salvação. A alegria daqueles que o recebem e acreditam que por Ele também nós podemos ser filhos de Deus.
No Natal celebramos a nova luz que é Jesus feito homem e que inunda toda a história. Uma luz sempre fecunda, geradora de alegria e esperança. Abramos a coração para que esta luz ilumine as nossas vidas e a renovemos o compromisso de partilhar esta luz. Partilhemos essa luz nascida em Belém para que renove a vida das nossas famílias e comunidades e para que encha o nosso mundo de mais alegria, paz e esperança.
Vila Real, 25 de dezembro de 2025
+António Augusto de Oliveira Azevedo
Diocese de Vila Real Diocese de Vila Real