O primeiro dia do novo ano é dedicado a celebrar o nome de Maria como Mãe de Deus. A contemplação do presépio onde está o Filho que ela nos deu, leva-nos a exaltar o papel e a missão daquela que, no calvário também nos foi dada como mãe. Invocamos a sua proteção maternal para esta diocese e para toda a humanidade ao longo do ano que hoje começa.
O Evangelho dizia que Maria «conservava todos aqueles acontecimentos, meditando-os em seu coração». Desta forma ela ensina-nos a autêntica atitude crente perante a vida que se renova em cada dia e em cada ano: viver a partir de dentro, viver com coração. Nesse espírito, vivamos todos os momentos do novo ano como um dom de Deus, empenhados em fazer o melhor, guardando na memória do coração as maravilhas que Deus faz em nós.
Como os pastores que regressaram de Belém «glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto», também nós, nesta celebração, damos graças ao Senhor pela vida que nos concedeu até hoje e por tudo o que nos permitiu testemunhar desta história humana a que Deus não é alheio.
Este dia inaugural, sendo de acção de graças, é também marcado por desejos e expectativas face ao ano que se apresenta diante de nós. Sem esquecer objetivos e projetos mais pessoais ou familiares, partilhamos a esperança de que seja superada esta pandemia e amenizadas as suas consequências. Estamos unidos pelo desejo de que seja um tempo de paz, de prosperidade e maior felicidade para todos.
Neste primeiro de janeiro que assinala o Dia Mundial da Paz, a Igreja convida a todos a alargarem os horizontes do olhar e do coração para alcançarem uma maior consciência da situação do mundo. Um mundo onde aumentam tensões em vários âmbitos e latitudes, onde crescem riscos e incertezas mas onde permanece um desejo forte de liberdade e de paz.
Na sua mensagem para este dia, o Papa Francisco aponta «o diálogo entre gerações, a educação e o trabalho« como «instrumentos para construir uma paz duradoura».
O diálogo, a começar no casal e na família, passando pelos grupos e instituições até chegar aos povos e nações é sempre uma condição indispensável para a paz. No presente, esse diálogo precisa de ser promovido e aprofundado na relação entre gerações. Desde logo é fundamental superar a ilusão de julgar que qualquer pessoa ou geração não precisa do outro. Esse equívoco acentua o risco de se ficar fechado no egoísmo ou mergulhado na solidão. A este propósito, lembra o Papa, que «a crise sanitária fez crescer, em todos o sentido da solidão e o isolar-se em si mesmos». Sem dúvida, é maior essa solidão nos idosos e a nos mais jovens.
Os desafios do futuro que temos pela frente requerem uma aliança intergeracional, a capacidade de diálogo e encontro de uma geração mais jovem que habita uma cultura tecnológica e uma geração mais velha que transporta a memória da história e a sabedoria que só se adquire com a experiência. «Sem raízes como poderiam as árvores crescer e dar frutos?», é a questão com que nos interpela o Papa.
A este primeiro caminho apontado em ordem a um futuro mais pacificado, o Papa acrescenta ainda os da educação e do trabalho. São duas áreas decisivas para o futuro, pelo que deveriam merecer maior cuidado e reflexão de toda a sociedade. Precisamos de uma melhor educação, que tenha no centro a pessoa concreta, o seu desenvolvimento integral, a promoção das suas competências e liberdade, uma educação aberta aos vários saberes e culturas.
Para um futuro de paz, é necessário também repensar a questão do trabalho, aliás suscitada durante esta pandemia. Sem perder de vista o valor do trabalho, a dignidade da pessoa que trabalha, é necessário procurar novos equilíbrios e maior justiça nas relações de trabalho, compatibilizar o trabalho com a vida familiar, cuidar do acesso dos mais jovens ao mundo do trabalho e das condições de acolhimento dos migrantes. Neste tempo em que assistimos a uma revolução tecnológica é fundamental que ela seja colocada ao serviço de toda a humanidade para um amanhã mais humano, justo e digno para todos, e seja também salvaguardada a defesa do ambiente e dos recursos do planeta.
Estes caminhos concretos, propostos pelo Papa como instrumentos fundamentais para encetar processos de pacificação, não nos podem fazer esquecer que cada um de nós pode ser artesão da paz, todos os dias e em todos os lugares. De modo especial, todo o cristão, todo o que acredita que Jesus nascido em Belém é o Messias, o Salvador, o Príncipe da Paz, deve sentir-se como verdadeiro instrumento da paz que Ele nos trouxe, no espírito da bela oração de São Francisco de Assis.
O primeiro dia do ano é, acima de tudo, um dia de esperança. Enquanto Igreja diocesana esperamos que seja um ano especial pela celebração jubilar e jubilosa do centenário. Apesar de alguns constrangimentos provocados pela pandemia, auguramos ainda que a fase preparatória do sínodo que nos ocupará nos próximos meses, signifique um aprofundar do espírito sinodal em todos os âmbitos da Igreja.
Ao iniciar a caminhada invocamos a benção de Deus para todos: para mais jovens e mais velhos, para os casais e as famílias, para o nosso país, para todos os povos. Que Deus, Pai de bondade nos assista e acompanhe em todos os dias. Que Jesus Cristo, rosto da misericórdia e da paz nos inspire a ser artífices da verdadeira paz que Ele nos trouxe. E Maria, Mãe de Deus e nossa mãe, padroeira da diocese, interceda sempre por nós.
Vila Real, 1 de janeiro de 2022
+António Augusto de Oliveira Azevedo