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Homilia – Dia Diocesano da Família

O evangelho desta solenidade da Ascensão do Senhor apresenta-nos o quadro grandioso da subida de Jesus ao céu diante do olhar perplexo dos discípulos. Aquele foi um momento marcante de esperança e de compromisso. De esperança, porque o Filho de Deus foi elevado à direita do Pai e assim nos abriu o caminho da salvação eterna; de compromisso porque a sua última palavra foi entregar aos discípulos uma missão exigente: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura». A partir de então a vida da Igreja, tendo sempre como horizonte e referência o céu, no entanto tem consciência da necessidade de percorrer os caminhos reais da história e mergulhar em cada cultura.

Neste dia em que celebramos, na nossa diocese, o Dia da Família, estas duas palavras – esperança e compromisso – devem inspirar e orientar o caminho das famílias cristãs e de toda a pastoral. Sintonizados com o Papa Francisco que proclamou este ano como Ano da Família Amoris Laetitia, não podemos ficar num discurso de lamentação ou condenação, mas precisamos de um renovado anúncio sobre a dignidade da vida, o valor da família e a beleza do matrimónio. Esta missão diz respeito a toda a Igreja mas tem como protagonistas principais os casais e as famílias cristãs. Caros casais, não tenhais medo ou vergonha de testemunhar a força do amor que vos une, o tesouro incomparável que são os filhos, a beleza do projeto que assumistes de construir uma família.

O relato de S.Marcos assinala que para Jesus, o anúncio do evangelho será acompanhado por grandes sinais na vida daqueles que acreditarem. Nesse sentido, também hoje acolher o evangelho e viver com fé tornará possível o surgimento de uma nova perspetiva sobre o sentido da vida, do matrimónio e da família no plano de Deus. Viver essas realidades a partir da fé será o antídoto espiritual para os venenos do egoísmo e do orgulho, a força para vencer tentações do consumismo ou ganância e para expulsar os demónios da mentira ou divisão.

A vivência da fé manifesta-se em tantos sinais de fidelidade e entrega. Começando pelas famílias, há  muitos  testemunhos que não podem deixar de nos impressionar: pessoas que se dedicam totalmente a cuidar de um familiar doente; membros do casal que estando afastados por motivos profissionais fazem um grande esforço para manter a família unida; pais que se privam de muitas coisas para garantirem o essencial aos filhos; famílias que se apoiam e entreajudam em situações de dificuldade material ou espiritual. Tantos sinais de amor que são também sinais de fé autêntica e de esperança. Hoje damos graças a Deus pela fidelidade na fé e no amor de tantos casais e famílias da nossa diocese. É que faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que cresce em silêncio todos os dias. Se alguns fracassam e por eles também rezamos, muitos casais e famílias crescem todos os dias…

Antes de  subir ao céu Jesus entregou aos discípulos uma missão difícil. De facto «ir e pregar» tem orientado a vida da Igreja até hoje e depois do impulso inicial dado por aqueles primeiros discípulos, essa missão renova-se em cada geração. Como terá sucedido com eles, também a nós poderá parecer uma missão impossível, superior às nossas capacidades e meios. Porém a história demonstra o contrário porque o anúncio do evangelho chegou a todo o império e a quase a todos os cantos da terra. Mas se restassem dúvidas, Jesus prometeu o dom do Espírito Santo para assistir a Igreja nesta imensa tarefa que cabe a todos os crentes porque todos somos «discípulos missionários».

No nosso tempo em que a Igreja reconhece a necessidade de uma nova evangelização, o Papa Francisco, certamente inspirado pelo Espírito Santo, proclamou este Ano da Família Amoris Laetitia. É uma grande oportunidade para revisitar a mensagem da exortação apostólica e concretizá-la, começando por reconhecer que «o desejo de família permanece vivo, especialmente entre os jovens» e que «o anúncio cristão sobre a família é verdadeiramente uma boa notícia» (AL,1). Para isso o Papa propõe que se desenvolvam novos caminhos pastorais em que os casais e famílias sejam os sujeitos principais, capazes de dar um testemunho jubiloso da sua fé. A consciência do papel da família como autêntica igreja doméstica foi reforçada nestes longos meses de pandemia.

Neste ano somos desafiados a dar um impulso novo à pastoral familiar. Uma pastoral que em vez de separar e excluir, privilegie o anunciar, acolher, acompanhar e integrar; mais do que «uma pastoral de falhanços é necessário reforçar uma pastoral para consolidar matrimónios e evitar ruturas» (AL,307). Uma pastoral que tenha em conta a realidade concreta em que vivemos, que seja capaz de chegar a todos os arciprestados, paróquias e comunidades; uma pastoral feita em estilo sinodal, capaz de congregar e potenciar os movimentos laicais; uma pastoral que envolva toda a família. Será pois um ano de esperança e de compromisso.

Esta celebração tem um sentido e brilho  especiais porque nela assinalamos os jubileus matrimoniais de vários casais que completam 60, 50, 25 e 10 anos de matrimónio. Para vós e para tantos que na nossa diocese que chegaram a uma etapa tão significativa da sua vida matrimonial este é um momento de ação de graças a Deus que vos abençoou no dia do vosso casamento e vos ajudou a chegar a este dia. Apesar das dificuldades foi um caminho que valeu a pena. Muitos sonhos foram cumpridos ou não foram possíveis, muita vida foi partilhada, mas acima de tudo, com a graça de Deus, fostes fiéis ao vosso SIM dado no dia do casamento.

Para vós vamos invocar a benção de Deus para que vos continue a acompanhar e a proteger. Mas antes quero dirigir-vos uma mensagem que se pode resumir nas duas palavras que hoje refletimos: esperança e compromisso. Que este dia renove em vós a esperança de que há ainda um caminho a percorrer pelo casal. Que o façais unidos por um amor cada vez  mais forte e com a consciência de que o projeto de família nunca está concluído. Esperança de que, com os vossos filhos e depois netos, possais viver muitos momentos felizes e de nas adversidades permaneçais unidos e fortes. E não esqueçais o compromisso de continuardes a ser um casal que dá testemunho da sua fé, a começar em casa, e dessa forma estareis a contribuir para o anúncio do evangelho.

Vila Real, 16 de maio de 2021

+António Augusto de Oliveira Azevedo

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