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Homilia – Celebração de abertura da fase diocesana de preparação do Sínodo

Nesta celebração solene em que damos início à etapa diocesana de preparação do próximo Sínodo dos Bispos sobre o tema: «Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão», deixemo-nos interpelar pela Palavra de Deus porque ela é sempre luz e farol para os nossos passos. Como ouvimos no Evangelho, Jesus convida os seus discípulos a uma alteração de perspetiva, uma mudança de atitude, a uma autêntica conversão. Acima das expectativas, ambições ou carreiras pessoais Jesus coloca o serviço àquela missão que dava sentido a toda a sua vida: a salvação de todos.

Convocados pelo Papa Francisco a participar na preparação do sínodo, somos desafiados a «caminhar juntos». Na igreja não caminha cada um por si, ninguém está só, nem se trata de uma competição para ver quem é o primeiro. Somos Povo de Deus que caminha na história, organizado em comunidades constituídas por gente diversa. Ajudamo-nos uns aos outros nesta peregrinação, confortamo-nos nas horas difíceis, animamo-nos e congratulamo-nos nos sucessos, sempre atentos para que ninguém fique para trás, especialmente os mais frágeis. Caminhamos juntos, animados pela mesma fé e conduzidos pelo Espírito de Deus.

No diálogo com os discípulos, Jesus interpela-os sobre o cálice que iriam beber e batismo que iriam receber. Nós, povo de batizados, já mergulhamos na Páscoa de Cristo e acolhemos a vida nova do Espírito que Ele nos concedeu. A nossa tarefa quotidiana é não deixar esmorecer ou apagar essa graça, antes tomar consciência e ativar a vida pascal que já recebemos. Isso não significa que Jesus nos isente de beber alguns cálices amargos, como Ele e os seus discípulos beberam. De facto, alguns escândalos e divisões, que têm afetado a Igreja, a ausência de testemunho de muitos batizados (clérigos ou leigos), a inércia de algumas comunidades causam pena e vergonha. Também as perseguições de que os cristãos são vítimas em várias partes do mundo e as discriminações que sofrem não podem ser silenciadas. Quando a nossa mãe, a Igreja, sofre, os seus verdadeiros filhos sofrem com ela.

Desde a Páscoa de Jesus, a história da Igreja destes dois mil anos ensina que os momentos de crise são oportunidades de mudança e renovação. O Concílio Vaticano II, iniciado há quase 60 anos, representou a esperança de um tempo novo para a Igreja. Os vários sínodos dos Bispos, entretanto realizados, procuraram concretizar essa renovação nos vários âmbitos e setores da vida e missão da Igreja. Desta vez, o Papa Francisco convida-nos a fazer um percurso sinodal, uma verdadeira experiência sinodal. Antes de mais dispunhamo-nos todos a refletir, orar, sentir se somos comunidades sinodais, isto é, se o nosso estilo de ser Igreja se inspira em Jesus e é genuinamente evangélico.

No passado domingo o Papa Francisco apresentou três palavras que correspondem às atitudes fundamentais neste processo: encontro, escuta e discernimento. Aos vários níveis é indispensável promover o encontro das pessoas, grupos e comunidades, entre si e com Cristo. Sem o encontro autêntico com Cristo não há mudança possível; sem o encontro dos crentes nada acontece de novo. Porém um encontro que facilite e promova a escuta e o diálogo, em que todos sintam que têm algo a dizer, a sua voz é atendida. Precisamos de escutar mais o que Deus nos quer dizer, escutar muitas vozes caladas e sofredoras, escutar os desafios que este tempo nos coloca e as interpelações das novas gerações.

Acerca do discernimento necessário para aprofundar ou abrir novos caminhos de sinodalidade na vida da Igreja, no Evangelho de hoje Jesus lembra-nos um critério de discernimento decisivo e insuperável: «O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela salvação de todos». Depois de advertir os discípulos de que não devem replicar a lógica do mundo em que predomina o sentido do poder e do domínio, Jesus apresenta o servir como a atitude fundamental da sua vida e daqueles que o querem seguir. Aquele equívoco tem sido ao longo da história um dos grandes obstáculos a uma Igreja mais sinodal e fraterna. E o seu rasto ainda se faz sentir quando se percebem sinais de clericalismo, autoritarismo, centralismo e outros do género. Na Igreja há funções de autoridade, lugares de especial responsabilidade, encargos de presidir, dirigir ou coordenar, mas isso nunca pode significar domínio, arbitrariedade, abuso de poder, recusa de transparência ou escrutínio. Como Jesus, todos na Igreja estamos para servir e não para sermos servidos, muito menos para nos servirmos.

O percurso sinodal que se inicia representa uma oportunidade para uma conversão em tantos modos de ser e de estar em Igreja; representa um tempo de purificação e de ousadia na implementação de processos e estilos de funcionamento mais evangélicos, acolhedores e fraternos.

Na nossa diocese de Vila Real o facto de este percurso se realizar durante a primeira parte do ano em que celebramos o centenário deve ser encarado como uma feliz coincidência. Por um lado, Ela desafia-nos a «caminhar juntos» com toda a Igreja, a sentirmo-nos mais parcela viva da Igreja universal e por outro a tomarmos consciência de que o «crescer com raízes» (lema do centenário) só poderá acontecer se formos uma diocese mais sinodal a todos os níveis. Por isso desejo que nos vários âmbitos diocesanos (paróquias e comunidades, movimentos, grupos e instituições) todos se empenhem em participar neste percurso sinodal, sem esquecer a necessidade de convidar aqueles que se afastaram ou não se identificam com a Igreja.

Invocamos o Espírito Santo para que nos ilumine e Maria, Nossa Senhora da Conceição, para que nos ajude e conforte neste caminho sinodal para que dê muitos e bons frutos no presente e no futuro da vida da Igreja.

Vila Real, 17 de outubro de 2021

+António Augusto de Oliveira Azevedo

Bispo de Vila Real

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