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Evangelizadores com espírito e com o coração: Vila Real conta com dois novos diáconos

A diocese de Vila Real viveu este domingo, dia 5 de julho, um dia especial, com a ordenação de dois novos diáconos: o Luís Coutinho, de Moura Morta, Peso da Régua, Arciprestado do Douro I, e o Marcelo Rodrigues, da paróquia de Carva, Murça, Arciprestado do Douro II.

O Luís entrou no Seminário depois duma licenciatura em Bio-Engenharia, na UTAD, e o Marcelo aos 20 anos depois de alguma experiência profissional no ramo da cozinha e pastelaria, tendo nascido na Suíça, de onde veio para Portugal com 15 anos.

Na homilia da celebração, sendo as primeiras ordenações a que presidiu depois de tomar posse da diocese, há um ano atrás, o senhor Bispo, D. António Augusto Azevedo, quis dar graças ao Pai por continuar a chamar e pela resposta dos jovens, com “fé, coragem e responsabilidade”, entregando a vida ao serviço do povo de Deus, e referiu-se à vocação, especialmente as vocações consagradas, como “um dom de Deus acolhido e correspondido sempre na paixão pelo Senhor e pelo povo a quem Ele nos envia”.

Aos novos diáconos exortou a serem evangelizadores com espírito e com o coração. A partir da exortação apostólica Evangelii Gaudium, do papa Francisco, enumerou as características da tarefa da evangelização que é diferente de um conjunto de tarefas pesadas, mas assumida em liberdade, há-de ser “ardorosa, alegre, generosa, ousada, cheia de amor até ao fim e feita de vida contagiante” (EG 261). Os diáconos, além do serviço da Palavra e do Altar no que lhes é próprio, são expressão da diaconia da Igreja. Por isso pediu: “sede sinal vivo e eloquente duma Igreja que está ao serviço dos mais pobres, duma Igreja que escuta, acolhe e tem lugar para aqueles que são excluídos”. Este espírito de serviço, disse, “é um espírito de caridade que começa sempre no reconhecimento do outro como pessoa e como filho de Deus”. E, referindo os profissionais que estiveram na linha da frente na actual pandemia, acrescentou que “são esses que fazem a diferença do que é plenamente humano e autenticamente cristão”.

Convidou ainda os dois diáconos, a partir do que ouviram no Evangelho deste dia sobre o coração manso e humilde de Jesus, a ser evangelizadores com o coração, a “cultivar um coração manso e pacificado, um coração humilde, simples, acolhedor e sábio como Jesus”.

Bem hajam todos os que estiveram envolvidos na sua formação: os Seminários, nomeadamente o Seminário Maior do Porto, que se fez representar pelo seu Reitor, D. Vitorino Soares, bispo Auxiliar do Porto, também as famílias, os párocos e comunidades paroquiais onde surgiu e cresceu a sua vocação, e os párocos e respectivas comunidades de estágio. A caminhada continua agora em ordem à ordenação para o presbiterado que, esperamos, seja possível sem as limitações que o estado de pandemia ditou.

HOMILIA – PONTIFICAL DE ORDENAÇÕES

O dia das Ordenações é um dia especial, um dia grande na vida de uma diocese e de toda a Igreja. Hoje o Luís e o Marcelo recebem o ministério de diácono e dessa forma se entregam plena e totalmente ao serviço do Povo de Deus. Inspirados nas palavras de Jesus, bendizemos o Pai porque, pelo seu Espírito, continua a chamar a muitos para o seguimento de Jesus e a enriquecer o seu povo com uma multiplicidade de ministérios e serviços. Damos graças ao Pai por todos os seus filhos que escutam esse chamamento, percorrem o caminho do discernimento e são capazes de responder no dia da ordenação, com fé, coragem, consciência e responsabilidade: «Sim, quero».

Aquele Jesus Cristo que convidava os que andavam cansados e oprimidos para que fossem até Ele, é o mesmo que antes tinha chamado os Doze a segui-lo para depois os enviar em missão. Estes, por sua vez, logo de início precisaram de escolher «homens de boa reputação, cheios do Espírito e sabedoria» (Act.6,3) para seus colaboradores, nomeadamente no serviço das viúvas e dos pobres. A esta luz reconhecemos que a origem de toda a vocação é sempre o Senhor que chama aqueles que entende; o centro e a razão de ser de todo o ministério é a configuração com Cristo e o prosseguimento da missão que Ele inaugurou. A vocação é assim um dom, acolhido e correspondido na paixão pelo Senhor e pelo povo a quem Ele nos envia.

O momento da ordenação é sacramental, carregado de uma grande sacralidade, momento em que se toma um encargo que se poderia traduzir com as palavras do Evangelho: «O meu jugo é suave e a minha carga é leve» (Mt.11,30). Sendo uma responsabilidade séria, sagrada, não constitui um peso desumano, superior às nossas forças, nem representa uma prisão ou colete-de-forças que anule a nossa liberdade. Pelo contrário, o compromisso solene daquele que é ordenado é uma afirmação de confiança no Senhor que concede sempre a graça inerente a cada função. É a manifestação de uma escolha livre, própria de alguém que acredita que uma vida dada por amor de Deus e dos irmãos tem condições para ser uma vida feliz e realizada.

Aquele que é ordenado diácono recebe o Espírito Santo em ordem à missão, pelo que se concretiza nele o que escrevia São Paulo: «está sob o domínio do Espírito que nele habita». Neste tempo em que a Igreja toma consciência da necessidade de entrar numa «nova etapa evangelizadora marcada pela alegria» (EG, 1) todo aquele que é ordenado é chamado a ser um «evangelizador com espírito, quer dizer, evangelizador que «se abre sem medo à ação do Espírito Santo (EG, 259). O Papa Francisco esclarece este seu apelo dizendo que esta evangelização «é muito diferente de um conjunto de tarefas vividas como uma obrigação pesada que quase não se tolera ou se suporta como algo que contradiz as nossas próprias inclinações e desejos (…) mas uma evangelização ardorosa, alegre, generosa, ousada, cheia de amor até ao fim e feita de vida contagiante» (EG,261).

Os diáconos, juntamente com os presbíteros e o bispo são chamados a ser evangelizadores com (este) espírito, especialmente com espírito de serviço. Além do serviço da Palavra e do Altar, naquilo que lhes é próprio, a especificidade deste ministério está precisamente em ser expressão da diaconia da Igreja. Sede sinal vivo e eloquente de uma Igreja que está ao serviço dos mais pobres, de uma Igreja que escuta, acolhe e tem lugar para os que são excluídos por um mundo em que parece só contar quem tem sucesso, poder ou dinheiro. O autêntico espírito de serviço é sempre espírito de caridade que começa no reconhecimento do outro como pessoa e filho de Deus. Quando este espírito de amor e de serviço está presente brilha o lado mais belo da humanidade e o lado mais rico do cristianismo. Como temos verificado nestes tempos de pandemia, enquanto uns se sentem tolhidos pelo medo, outros se negam a ver a realidade e outros ainda parecem perdidos na trama dos números e da burocracia, aqueles que fazem a diferença são os que se estão empenhados em cuidar dos doentes, dos idosos e dos pobres, seja nos hospitais, lares ou residências familiares. Mais uma mais se comprova que é o servir o outro numa entrega dedicada e corajosa que marca a diferença do que é verdadeiramente humano e autenticamente cristão.

Como aprendemos pela escuta do Evangelho, há ainda um outro traço distintivo do discípulo enviado em missão, como é o diácono: ser evangelizador com coração. Essa é a aprendizagem mais importante, a conversão indispensável de todo aquele vem até Jesus e recebe o seu espírito. Para ser evangelizador com espírito é necessário cultivar um coração manso e pacificado, humilde e simples, acolhedor e sábio como o de Jesus. Esta é uma das dificuldades mais comuns do clero e uma dos equívocos mais frequentes do nosso tempo que urge clarificar: não há paz ou serenidade em corações orgulhosos, soberbos ou auto-suficientes. Só os corações que saem de si e se abrem ao outro (e ao Outro) podem experimentar a alegria e a felicidade plena.

A ordenação estabelece um vínculo novo que une a vida da pessoa a Cristo e à sua Igreja. Comprometidos nesta comunhão sacramental com Cristo, sabeis que Ele é o Senhor que sempre nos acompanha no nosso ministério e renova as nossas forças quando nos fatigamos. Ancorados na comunhão com a Igreja, sabeis que ela é família de irmãos, mãe sempre acolhedora, santa pela presença do Espírito divina mas também pecadora por causa das nossas fragilidades humanas. Quem reforça os laços de comunhão com Jesus Cristo e a sua Igreja não se perde nos momentos mais difíceis.

A partir deste dia diocese conta convosco como evangelizadores com espírito e coração. A humanidade precisa de vós como anunciadores e testemunhas de um Deus «clemente e compassivo / paciente e cheio de bondade /bom e carinhoso para com todos / cuja misericórdia se estende a todas as criaturas» (Salmo 144).

          Vila Real, 5 de Julho de 2020

+António Augusto de Oliveira Azevedo

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